RESENHA: MERCILESS CRUCIFIXION - ΑIPEΣIΣ (2019)

Resenhas

Publicado em 20/11/2019

MERCILESS CRUCIFIXION - "ΑIPEΣIΣ"

Label: Hammer of Damnation (Link para o site da gravadora)

ANÁLISE

É sabido por todos que o comércio de CDs vem decaindo ano após ano. Se antes era difícil esgotar uma tiragem de mil cópias, hoje raramente algum trabalho consegue esgotar sua tiragem de 300 ou 500 unidades. Com isto, as poucas gravadoras que ainda existem tem apostado em relançamentos de álbuns clássicos, com o intuito de conseguir recuperar o investimento e, com sorte, obter caixa para um novo relançamento.

Se o mercado é assim atualmente, devemos valorizar (e muito) o trabalho destes (loucos) corajosos e prestar atenção ainda mais em quem aposta no inusitado.

E inusitado pode ser o melhor adjetivo para a paulista HAMMER OF DAMNATION. Navegando na contramão do mercado atual, a gravadora aposta em alguns itens que há tempos estavam enterrados no esquecimento do submundo.

Uma destas preciosidade foi revisitada pela gravadora, para alegria dos hellbangers. O (re)lançamento de "ΑIPEΣIΣ", demo-tape lançada originalmente no ano de 2006 pela grega MERCILESS CRUCIFIXION apenas comprova o quão arrojada é a HAMMER OF DAMNATION.

Um trabalho completamente obscuro, que nunca chegaria ao conhecimento de quem acredita que na Grécia existam apenas ROTTING CHRIST e VARATHRON, por exemplo, chega ao Brasil num acabamento impecável.

A começar pela brilhante e soturna intro "Aeshma-Deva", o álbum já mostra o quão pútrida a Grécia pode ser logo nos segundos iniciais de "Supreme Blasphemous Outbreak". Temos aqui uma sonoridade caótica e assassina, que encherá de júbilo toda mente doente que se deleita com a violência de SARCOFAGO e BLASPHEMY (aliás, ambas "coverizadas" pela banda neste lançamento), por exemplo.

Tudo aqui é extremamente doentio: seja pela produção propositalmente tosca, as guitarras sangrentas de Necrotormentor (também responsável pelo baixo), a bateria reta e precisa de Impaler e os vocais vociferados de A/H Virus trazem uma sonoridade pouco comum para quem aprecia o tradicional Black Metal grego.

A blasfêmia segue em "Predominate in Sacrilege" onde conseguimos perceber que mesmo com a produção precária, os músicos possuem extrema técnica (tanto que seus membros já fizeram/fazem parte de outras grandes bandas gregas) em bases intrincadas e memoráveis. A breve incidental que abre "Full Obligatory Submission to the Goathordes" prepara o ouvinte para outra destruição. São quase quatro minutos de pura blasfêmia ao reino de luz, onde o trio ataca de forma feroz os ouvidos sensíveis e harmoniosos. Nada aqui é belo, nada aqui é casto. Nem mesmo suas bases que surgem remetendo a ritmos melodiosos, os vocais cuspidos de A/H Virus lembram que não haverá amanhã.

Quando achamos que o fim se fez presente, a bélica "A Black Legacy of Hate" explode pelos alto-falantes como o canto de vitória contra o inimigo. Tudo aqui é superlativo demais: Suas bases altamente inspiradas, sua levada mais vagarosa ou até mesmo seu andamento marcial alternando com a ferocidade desgovernada a tornam brilhante.

Se tudo isso não bastasse, este material ainda tem uma estupenda versão para I.N.R.I., da gigante SARCOFAGO além de três faixas ao vivo (onde a banda recria esta música além de "Ritual", da canadense BLASPHEMY e uma versão matadora para "Merciless Crucifixion").

VEREDITO

Não sei o que passa na cabeça dos responsáveis pela HAMMER OF DAMNATION em resgatar um material tão sombrio quanto este.

Quando poderia apenas trabalhar com materais que agradaria à grande massa, a gravadora vai lá e resgata uma das preciosidades do metal extremo que estava adormecida no limbo.

Sorte de todo aquele que realmente vive o underground e terá este disco em sua coleção, pois "ΑIPEΣIΣ" possui características suficientes que o gabaritam como um dos melhores lançamentos de um selo que vem se especializando em lançar apenas materiais obrigatórios.

Adquira sem ressalvas!

8.5/10

(Daniel Aghehost)