RESENHA: POETICUS SEVERUS - Ser Guerreiro é a Nossa Lei - Se não for a Alegria do Mundo, a Nossa Será! (2019)
Resenhas
Publicado em 18/09/2019

 

 

POETICUS SEVERUS - "Ser Guerreiro é a Nossa Lei - Se não for a Alegria do Mundo, a Nossa Será!"

Label: Mutilation Records (Link para o site da gravadora)

 

ANÁLISE

Estamos em meados dos anos 90. O Black Metal nacional vive seu apogeu, com grandes trabalhos sendo lançados, bandas em seu melhor momento com shows verdadeiramente ritualísticos. Eventos que se tornariam lendários acontecendo em um número menor do que temos visto hoje, porém muito mais intensos.

Uma das representantes desta época é a carioca POETICUS SEVERUS. Formada no ano de 1997, logo apresentaria ao underground sua primeira demo-tape, a antológica "Discórdia é a Lei dos Fracos... Injurius Veride".

A cada nova apresentação da banda, éramos agraciados por grandes hinos que representavam muito bem a identidade da banda: O Opereto Barbaricus Metal. Algo novo e único em todo o cenário que tornava indefectível o som da banda. Músicas tão poderosas e marcantes, mas que não haviam tido ainda o privilégio de figurar em um disco completo.

O tempo passou e depois de um longo inverno, finalmente temos em nossas mãos o primeiro álbum da banda: "Ser Guerreiro é a Nossa Lei - Se não for a Alegria do Mundo, a Nossa Será!".

Lançado pela MUTILATION RECORDS em cd acrílico e digipack (em um acabamento esplendoroso), este trabalho retoma o lugar de destaque que sempre pertenceu à banda. 

Logo de início, temos a bela "Aurea (Ato I)" com uma delicada passagem atmosférica orquestrada por Grim (teclados). Estas passagens marcam brilhantemente todo o álbum, já que a sonoridade da banda recria uma atmosfera antiga, gloriosa.

Uma das músicas mais conhecidas da banda surge em seguida. Os cavalos de guerra prenunciam "Armorial". Numa versão mais lenta que a executada em shows, esta música ficou ainda mais grandiosa. Esta nova produção (muito bem realizada, por sinal) deixou a sonoridade da banda ainda mais poderosa, com mais destaques para os belíssimos vocais de Cesar Severus e Grim. Emocionante!

Se você, amigo leitor, sobreviveu à grandiosidade de "Armorial", prepare-se: Uma viagem de pouco mais de sete minutos chamada "Epílogo" se inicia. E não são precisos muitos segundos desta música para percebermos o quão superlativa é. Uma das letras mais enigmáticas e interessantes que já vi tem como condução instrumentais altamente refinados. Tudo aqui funciona maravilhosamente bem. Das guitarras que despejam riffs altamente criativos a todo instante, passando pelo contrabaixo poderoso e marcante em comunhão com a bateria certeira e muito bem timbrada, culminando nos teclados que deixam de ser coadjuvantes para tomar o protagonismo da música em um dos momentos mais sublimes de todo o disco. Espantoso o que a banda fez nesta composição. 

Mais duas conhecidas pelos seguidores da banda surgem. Primeiro, "Morte ao Morto! Tu és o Nosso Grito" e "Chamas do XI". Enquanto a primeira traz a banda em uma epopeia diante de batalhas medievais contra uma sociedade caída entoada por vocais poderosos, a segunda narra a ascenção e queda de sentimentos à bordo de um negra fragata. E a história toma ares cada vez mais dramáticos enquanto a banda conduz o ouvinte a passagens inesquescíveis.

A curta instrumental "Pedra" serve como um descanso para que nos preparemos para o tempestuoso contrabaixo inicial de "Natural Maldade". Incrível como a banda conseguiu pegar temas já antigos e dar uma roupagem nova e interessante. Quem já teve o prazer de conferir esta música ao vivo, sabe o quão linda é. E está ainda mais espetacular neste registro. 

A linda "Aurea (Ato II)" apresenta toda a atmosfera única que a banda consegue criar. São momentos de pura contemplação para que o ouvinte faça desta viagem algo memorável. Ponte perfeita para outro grande momento da banda: "Congressus Cum Daemonium" é um daqueles clássicos que funcionam perfeitamente no set-list POETICUS SEVERUS. E esta versão registrada no cd ficou soberba! Pesada, intensa e demoníaca na medida certa, possuindo um final magistral.

Duas outras grandes passagens vem a seguir, iniciando a parte final do álbum. A décima faixa, "Ser Guerreiro é a Nossa Lei" recria os versos de "Morte ao Morto" em uma atmosfera completamente diferente, mostrando que a banda consegue (re)criar climas com uma facilidade pouco vista. Já "Consagra" inicia com riffs cavalgados amparados por um excelente trabalho de baixo e bateria. Estes fatores a deixam ainda mais pesada e especial.

O clímax surge em "Aurea (Ato III), mostrando que banda acertou ao criar uma longa instrumental, porém dividida em três atos espalhados durante o disco. Isso ajuda o ouvinte a mergulhar de cabeça na poesia etérea da banda. Enquanto a primeira possui andamentos sublimes, temos aqui o final de tudo, em um ambiente denso e hostil.

Estamos chegando ao final desta jornada musical e temos aqui duas faixas que são novas para pessoas que acompanham a banda há alguns anos. "Gloria Aeterna" apresenta um lindo tema de cordas entremeado por teclados soturnos. E o crescimento desta música nos deixa ainda mais extasiados, pois temos a certeza que a banda será ainda mais grandiosa em seus futuros trabalhos. Encantadoramente sombria!

Este sentimento inebriante que nos acometeu continua em "Nocturnus Versiculis", onde toda a extrema técnica dos músicos produz uma canção que se une perfeitamente com a anterior. Seja na sonoridade, seja na ambiência criada neste que é um divisor de águas para o underground nacional.

Encerrando o disco, temos o belo tema "A Música", onde o poema de Charles Baudelaire foi transformado em música Severa, despertando o ouvinte desta viagem transcendental.

 

VEREDITO

A espera foi longa, mas "Ser Guerreiro é a Nossa Lei - Se não for a Alegria do Mundo, a Nossa Será!" mostrou palavra por palavra, acorde por acorde, porque a POETICUS SEVERUS é uma das bandas mais originais do underground nacional. Composto por temas intrincados, onde é preciso um mergulho profundo entre motes complexos e obscuros, este é um álbum que beira a perfeição.

Chega a emocionar o tamanho entrosamento que a banda possui, merecendo grande destaque todo o trabalho feito por Cesar Severus (guitarras e vocais), Sub Umbra (contrabaixo), Grim (teclados e vocais) e Gabriel Cabral (bateria - também responsável pela produção refinada deste disco). A uniformidade entre os membros é tamanha que este material acaba soando como o regozijo de todos.

Grandes discos geralmente são feitos por grandes composições. Obras-Primas possuem, além de grandes composições, alguns elementos transcendentais. 

E este álbum, meus amigos, possui elementos suficientes que o gabaritam como um dos discos mais monumentais que já foram lançados pelo underground.

Mais do que música, estamos diante de uma verdadeira poesia cósmia. Severa. Única.

A trilha sonora perfeita para a revolta contra uma civilização repleta de valores efêmeros.

 

NOTA FINAL

Não dá pra não destacar também o excelente trabalho realizado pela MUTILATION PRODUCTIONS.

Lançado em versão acrílica e digipack, a gravadora sabia muito bem que estava diante de um trabalho ímpar e, por isso, deu a devida atenção a este brilhante trabalho.

Destaques também para a parte gráfica, composta por belas fotos e as letras das músicas, fato essencial para que o ouvinte desfrute ainda mais desta obscura viagem.

 

   

10/10

 

(Daniel Aghehost)

 



 

 

TRACK-LIST

1.Aurea (Ato I)

2.Armorial

3.Epílogo

4.Morte ao Morto! Tu és o Nosso Grito

5.Chamas do XI

6.Pedra

7.Natural Maldade

8.Aurea (Ato II)

9.Congressus Cum Daemonium

10.Ser Guerreiro é a Nossa Lei

11.Consagra

12.Aurea (Ato III)

13.Glorea Aeternae

14.Nocturnus Versiculis

15.A Música (Charles Bandelaire)

 

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