KANONENFIEBER em São Paulo/SP
O domingo, 7 de dezembro, tinha tudo para ser apenas mais um dia de decisões no esporte: final da Fórmula 1, drama de rebaixamento no Brasileirão… mas nada disso importava. A verdadeira expectativa estava reservada para a noite no Carioca Club, em Pinheiros, onde a KANONENFIEBER desembarcou para um dos shows mais intensos que São Paulo recebeu em 2025. A apresentação, organizada pela Overload Brasil e acompanhada pelo canal Na Lâmina da Foice e Dark Radio Brasil, prometia e entregou muito mais do que música.
Logo na entrada, a casa já pulsava: público numeroso, clima de guerra iminente e uma banca oficial abastecida de camisetas, moletons e CDs, pronta para alimentar qualquer fã sedento de memorabilia.
E então, a imersão começou.
A KANONENFIEBER não sobe ao palco, ela ergue uma trincheira inteira diante dos nossos olhos. A experiência bélica, inspirada nos relatos da Primeira Guerra Mundial, se instaura antes mesmo da primeira nota: sons históricos ecoam pelo PA, luzes abafadas recriam o front e o palco é transformado em cenário de batalha.
Quando a sirene que introduz “Grossmachtfantasie” corta o ar, o público é literalmente convocado para o combate. A banda surge com uniformes militares, postura teatral e uma presença de palco que mais parece uma reencenação sombria do sofrimento humano. Não é apenas um show — é uma ferida histórica reaberta. E o público absorve esta ideia, como soldados prontos para a batalha. O que se viu foi uma total conexão entre banda e plateia.
O vocalista Noise foi o comandante da noite, conduzindo a audiência com firmeza e intensidade. As músicas ganham vida em coros ensurdecedores; a catarse coletiva se instala. Em “Der Füsilier”, um dos momentos mais emocionantes, Noise lê uma carta e depois a arremessa para o público, arrancando gritos de fúria e devoção. O riff principal explode como uma rajada, enquanto o refrão é tomado por centenas de vozes que parecem ter vivido aquela dor.
A cada música, mais rodas se abrem. A energia cresce, violenta e catártica. Infelizmente, ainda presenciamos o triste comportamento de alguns que ainda insistem em desrespeitar mulheres que entram no mosh. Cena lamentável e que não deveria existir no underground.
Mas nada deteve a força da apresentação. “Der Maulwurf” fez tremer o Carioca Club, com o público cantando cada linha como se fosse um hino de guerra. Noise domina o palco com uma facilidade rara, conduzindo o caos com precisão quase militar.
No fim, a sensação é unânime: foi uma noite brutal, inesquecível e maior do que o próprio show. A KANONENFIEBER entregou uma performance que transcende música; é arte, história e denúncia sobre o sofrimento causado pela guerra, tudo exposto em cada gesto, cada riff, cada palavra.
Uma noite que fica marcada para quem vive o underground. Banda, produção e público transformaram o Carioca Club em um campo de batalha emocional que não será esquecido tão cedo.
Agora, só nos resta aguardar o retorno da KANONENFIEBER ao Brasil porque, após uma noite dessas, ninguém sai ileso.
Parabéns à Overload Brasil e à Tedesco Assessoria de Imprensa por proporcionarem uma noite inesquecível aos presentes.
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Rogério Rocker (Produtor e apresentador do programa Two Sides)
Fotos por: Diego Vieira