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PRIMEIRAS IMPRESSÕES: PARADISE LOST - Ascension (2025 - Shinigami Records)
Por Daniel Aghehost
Publicado em 03/10/2025 15:58 • Atualizado 03/10/2025 17:37
Resenhas

PARADISE LOST - Ascension

(Nuclear Blast // Shinigami Records - Clique aqui para adquirir)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Quase quatro décadas depois de surgirem em Halifax e se consolidarem como parte da tríade do doom britânico ao lado de ANATHEMA e MY DYING BRIDE, a PARADISE LOST chega ao 17º álbum de estúdio. “Ascension”, lançado em 19 de setembro de 2025 pela Nuclear Blast (e em versão nacional pela Shinigami Records), surge como um retrato maduro de uma banda que já atravessou inúmeras fases: do death/doom inicial ao gótico melódico, passando pela ousadia eletrônica de “Host” (1999) e pelo retorno ao peso em meados dos anos 2000. A grande questão, inevitável para qualquer veterano, é: ainda há fogo criativo depois de tantos capítulos? A resposta, felizmente, é positiva: “Ascension” não apenas revisita momentos marcantes da trajetória, mas os integra em um disco coeso, vigoroso e surpreendentemente inspirado.

O álbum abre de maneira avassaladora com “Serpent on the Cross”, talvez o corte mais pesado que a banda lançou em muitos anos. Riffs densos, clima fúnebre e a alternância entre o gutural abissal e linhas limpas fazem deste um hino imediato: um cartão de visitas que prova que Nick Holmes (um dos maiores vocalistas de todos os tempos) e companhia ainda sabem soar brutais sem perder a melodia. Na sequência, “Tyrants Serenade” equilibra o lado gótico de “One Second” (1997) com o peso de “Draconian Times” (1995), revelando um refrão marcante e uma atmosfera que remete até mesmo ao magnetismo de Peter Steele e sua TYPE O NEGATIVE.

“Salvation” amplia a carga dramática em sete minutos de doom solene, evocando a tradição mais fúnebre da banda e ecoando até influências contemporâneas do gênero. “Silence Like the Grave” e “Diluvium” retomam a cadência mid-tempo e reforçam a veia mais acessível, próxima ao período de “Icon” (1993), com riffs que soam familiares e muito envolventes. É nesse ponto que fica evidente como “Ascension” consegue passear pelas várias fases sem se perder: tudo soa orgânico, como se cada era da banda tivesse amadurecido em um mesmo corpo sonoro.

No centro do álbum, “Lay a Wreath Upon the World” aparece como um respiro melódico, conduzido por harmonias vocais femininas (graças a Heather Thompson, esposa de Greg Mackintosh, que vem ajudando a banda em belíssimas participações nos discos recentes) e arranjos quase litúrgicos que explodem em grandiosidade gótica. Já “Savage Days” mistura introspecção e força rítmica, como se a PINK FLOYD fizesse algo próximo ao doom metal, enquanto “Sirens” resgata elementos presentes nos discos mais recentes da banda, como o ritmo mais seco e direto, aliado a altas doses melódicas. Tudo em um equilíbrio perfeito. Impressionante a variação vocal de Holmes nesta faixa. 

A reta final guarda momentos que ampliam a diversidade: “Deceivers” mantém a toada sombria, soando como outro momento de construção brilhante, enquanto “The Precipice” aposta em um requinte sublime, com belíssima incursão de piano e tom quase fúnebre, atmosfera sonora em que a banda domina, encerrando o álbum com majestade, costurando doom, gótico e melancolia em um fechamento digno da tradição da PARADISE LOST.

Musicalmente, o álbum impressiona pela vitalidade. Greg Mackintosh e Aaron Aedy, uma das mais talentosas duplas de guitarristas do metal mundial, criam, além de solos que soam memoráveis devido ao elevado virtuosismo, um arsenal de riffs que transitam entre o arrastado e o melódico sem cair no déjà vu, enquanto Steve Edmondson e o novo baterista Guido Zima sustentam a base com solidez. O grande destaque, no entanto, é Nick Holmes, que soa mais versátil do que nunca: ora crooner gótico, ora mestre do gutural, com passagens limpas e coros soturnos que potencializam o peso emocional de cada faixa.

“Ascension” é daqueles discos que, à primeira vista, parecem apenas mais um capítulo tardio de uma carreira extensa, mas logo se revelam maiores do que isso. A PARADISE LOST entrega um álbum consistente, equilibrado e cheio de inspiração, que consegue dialogar com todas as suas fases sem soar datado ou perdido no tempo. Não é um “novo Draconian Times”, mas também não precisa ser: em 2025, a banda mostra que ainda tem vitalidade criativa para produzir um trabalho que se sustenta entre os grandes de sua discografia. Se “Obsidian” (2020) já havia sinalizado uma retomada criativa, Ascension a confirma de maneira definitiva.

 

EM POUCAS PALAVRAS:

 

DESTAQUES:

Difícil destacar momentos em um disco tão coeso, mas é impossível passar inalterado por músicas como “Serpents on the Cross” (o que as guitarras fazem aqui, é de se emocionar a cada audição), “Tyrants Serenade” e seu maravilhoso clima gótico, “Lay a Wreath Upon the World” e as belíssimas harmonias aqui contidas ou até mesmo o encerramento com “The Precipice”, onde a banda mostra que transita muito bem em todas as direções a que se propõe.

 

PONTOS DE ATENÇÃO:

Algumas faixas do miolo, como “Diluvium”, ou “Sirens”, mesmo sendo bons momentos, podem soar menos impactantes em meio a tantos momentos fortes. Alguns podem alegar que falta inovação, já que o disco parece mais uma síntese de estilos do que uma reinvenção. Mas nada que tire o brilho desta obra.

 

EXTRA-MÚSICA:

A capa, de estética vitoriana sombria, dialoga com a aura gótica da obra e reforça a ideia de ascensão espiritual/ritualística. Hipnótica, merece extensiva apreciação. A produção assinada por Greg Mackintosh valoriza tanto o peso quanto os detalhes melódicos, garantindo clareza sem perder densidade. No Brasil, a gravadora SHINIGAMI RECORDS lançou este álbum em cd acrílico e digipack, com duas músicas bônus (“This Stark Town” e “A Life Unknown” – não presentes nesta análise pois não faziam parte da versão digital ouvida pela DARK RADIO). Excelente oportunidade para levar este disco acima da média a um preço justo.

 

VALE A PENA?

“Ascension” é um triunfo tardio da PARADISE LOST, equilibrando brutalidade, melancolia e maturidade. Um disco que serve tanto para fãs de longa data quanto para quem deseja conhecer os britânicos em um de seus momentos mais inspirados das últimas décadas. Recomendo fortemente não só favoritar o disco em seu streaming preferido, como adquirir a versão nacional deste trabalho.

  

8.0/10

 

(Daniel Aghehost)

 

 

TRACK LIST

1. Serpent on the Cross

2. Tyrants Serenade

3. Salvation

4. Silence like the Grave

5. Lay a Wreath upon the World

6. Diluvium

7. Savage Days

8. Sirens

9. Deceivers

10. The Precipice

 

 

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