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PRIMEIRAS IMPRESSÕES: HOODED MENACE - Lachrymose Monuments of Obscuration (2025)
Por Daniel Aghehost
Publicado em 21/11/2025 08:47 • Atualizado 21/11/2025 08:55
Resenhas

HOODED MENACE - Lachrymose Monuments of Obscuration

(Season of Mist // Metal Army Rec. - Clique aqui para adquirir)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

A finlandesa HOODED MENACE chega ao oitavo álbum consolidando uma transformação que vinha sendo insinuada desde “Ossuarium Silhouettes Unhallowed” (2018)  e assumida com mais coragem em “The Tritonus Bell” (2021): a banda quer continuar sendo uma representante do death/doom metal, mas não tem mais interesse em permanecer soterrada sob a mesma névoa de sempre. “Lachrymose Monuments of Obscuration” (Season of Mist / Metal Army Rec.) é, nesse sentido, o registro em que essa ambição melódica se torna inseparável da identidade fúnebre que sempre caracterizou o grupo. O trabalho não apresenta uma ruptura, mas um amadurecimento consciente. A banda sabe exatamente que tipo de emoção deseja provocar e que elementos precisa manipular para chegar lá: riffs mais abertos, melodias mais explícitas, atmosferas góticas calculadas e um trabalho de guitarra que privilegia clareza sem abandonar o peso. Uma fusão perfeita entre o início do death doom dos anos 90 com a melodia do heavy metal dos anos 80.

A abertura com a introdução “Twilight Passages” deixa claro o que espera o ouvinte: guitarras limpas, harmônicas, quase cerimoniais, que funcionam como um corredor de entrada para um disco onde a melodia guia o ambiente sem suavizar o impacto. Em seguida, “Pale Masquerade” confirma essa direção ao alternar o death/doom com passagens de heavy metal clássico, riffs mais articulados e uma estrutura que revela ambição maior que nos trabalhos anteriores. Em seus mais de sete minutos, a banda apresenta riffs ciclópicos, ecos de SENTENCED e CATHEDRAL, linhas vocais estupendas de Harri Kuokkanen e uma alternância entre climas fúnebres e explosões de metal tradicional. Ainda assim, é um dos momentos que mais demonstram o virtuosismo de Lasse Pyykkö, um verdadeiro arqueólogo de riffs O grupo parece mais interessado em deixar suas ideias respirarem do que em apenas erguer paredes sonoras.

“Portrait Without a Face” é o mergulho mais profundo no gótico que a banda já experimentou: o uso de cello e os arranjos melancólicos aproximam a faixa da primeira fase da britânica PARADISE LOST, quando melodia e peso ainda dividiam o mesmo corpo. A música cresce porque alterna passagens introspectivas com explosões densas, construindo um arco emocional que se sustenta sem exageros. Quando a faixa rompe em passagens mais diretas e pesadas, a sensação é de que duas décadas de doom e death se comprimem em uma única canção.

Já “Daughters of Lingering Pain” se apresenta como um tributo não declarado à tradição escandinava, trazendo a influência direta das escolas melódicas, especialmente CEMETARY (alguém ainda lembra?), com riffs que evocam nostalgia e uma condução menos turbulenta, transportando o ouvinte diretamente ao início dos anos 90, mas ainda marcada pela sonoridade tradicional da HOODED MENACE. Aqui, a combinação entre sentimento e brutalidade encontra equilíbrio raro. É uma das composições mais redondas do álbum, capaz de emocionar tanto pela melodia quanto pelo peso.

“Lugubrious Dance” devolve o disco ao mais puro do tradicional doom metal da banda, com andamento arrastado, riffs sustentados por silêncio e a sensação de que cada nota foi deixada no lugar correto. É o momento mais próximo do espírito original da banda, e exatamente por isso funciona como âncora emocional do álbum. Há seções onde o guitarrista Lasse Pyykkö opta por riffs amplos e sustentados, submersos em reverb e melancolia, e depois transições para grooves mais ritmados, quase “cadenciados”: a sensação é de um arrastar que, de repente, encontra marcha. Já a voz de Harri Kuokkanen aqui aparece particularmente angustiada, não apenas gutural, mas com arranjo vocal que parece capturar o esforço de alguém que arranca de si mesmo seus últimos suspiros. Sem dúvidas, um dos grandes momentos de “Lachrymose Monuments of Obscuration”.

No meio das sombras densas que estruturam o novo álbum, a HOODED MENACE surpreende ao revisitar “Save a Prayer” (hino da DURAN DURAN) e convertê-la em algo que parece ter sido escrito para ecoar dentro de catacumbas. A escolha, por si só, já revela ousadia: pegar um clássico pop que nasceu para brilhar sob luzes de neon e arrastá-lo para o subterrâneo, onde cada melodia precisa disputar espaço com o peso das guitarras e o cheiro de ferrugem do doom. Os riffs substituem com naturalidade os sintetizadores, e a melodia, ainda reconhecível, surge como um eco distante, quase um fantasma de si mesma. Os vocais guturais não anulam o romantismo do original, mas o distorcem até soarem como súplica. É uma versão que preserva o coração da canção, mas o coloca para pulsar dentro de um corpo completamente diferente: mais frio, mais arruinado, mais HOODED MENACE. No fim, a banda prova que não está apenas rendendo homenagem a um hit; está demonstrando domínio absoluto do artifício da reinvenção, convertendo um hino pop em liturgia fúnebre e fazendo isso parecer natural. 

Por fim, “Into Haunted Oblivion” fecha a jornada com quase dez minutos de duração, reunindo tudo o que o álbum apresentou: riffs massivos e inspiradíssimos, as harmonias melódicas, os arranjos atmosféricos e o clima soturno. É um encerramento grandioso, ainda que por vezes excessivo, deixando claro que a banda prefere apostar alto a caminhar em terreno seguro.

No todo, “Lachrymose Monuments of Obscuration” é o registro mais consciente e expansivo da carreira recente da HOODED MENACE. A banda abraça a melodia sem trair suas origens e amplia sua paleta estética com elementos góticos e arranjos mais trabalhados. Há pequenas dispersões, sim, sobretudo quando a duração de algumas faixas ultrapassa o necessário, mas o conjunto é sólido, envolvente e confirma que a evolução do grupo não é acidental, mas intencional e madura.

 

 

EM POUCAS PALAVRAS:

 

DESTAQUES:

A força hipnótica de “Lugubrious Dance”, a melancolia construida com cello em “Portrait Without a Face” e a ousadia bem-sucedida da releitura de “Save a Prayer”, que transforma um hit pop oitentista em peça gótica sem perder sua essência melódica.

 

PONTOS DE ATENÇÃO:

Algumas faixas se estendem além do essencial e, em momentos pontuais, a melodia disputa espaço com o impacto do doom, fazendo com que certas ideias se prolonguem mais do que deveriam. 

 

EXTRA-MÚSICA:

Achei muito interessante o vídeo que a banda fez para “Portrait Without a Face”. Um vídeo que consegue transmitir muito bem a essência do disco e, principalmente, a mística por trás da banda.  Outro ponto que merece destaque é o belíssimo lançamento nacional, feito pela Metal Army Rec. Excelente oportunidade de adquirir este disco a um preço justo!

 

VALE A PENA?

Sim, especialmente para quem acompanha a evolução da banda e quer ver até onde a HOODED MENACE consegue expandir seu universo sem se descaracterizar. É um álbum ambicioso, maduro e ciente de suas próprias sombras.

Se você é amante daquele doom metal sujo e pesado do início dos anos noventa, ou apaixonado pelo metal tradicional, este disco será um verdadeiro deleite.

  

9.0/10

 

(Daniel Aghehost)

 

 

TRACK LIST

1. Twilight Passages

2. Pale Masquerade

3. Portrait Without a Face

4. Daughters of Lingering Pain

5. Lugubrious Dance

6. Save a Prayer (Duran Duran cover)

7. Into Haunted Oblivion

 

 

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