VINTERSORG - Vattenkrafternas Spel
(Hammerheart Records// Sound City Records - Clique aqui para adquirir)
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Após oito anos de silêncio, Andreas Hedlund retorna com um álbum que carrega tanto expectativa quanto simbolismo. “Vattenkrafternas Spel” (“O jogo das forças da água”, em tradução literal), lançado em 26 de setembro de 2025 pela Hammerheart Records, é o 11º trabalho de estúdio da VINTERSORG e reafirma sua identidade única dentro do metal, mesclando folk, black, heavy e progressivo em um caldeirão sonoro que resiste a classificações fáceis. O hiato prolongado não se traduz em estagnação: aqui, Hedlund revisita suas raízes e, ao mesmo tempo, expande suas composições com arranjos mais densos e orquestrações elaboradas. O álbum se apresenta como uma jornada de pouco mais de uma hora, dividida em nove capítulos que evocam paisagens gélidas, rios míticos e atmosferas ancestrais.
A abertura com “Efter dis kommer dimma” cumpre perfeitamente a função de transportar o ouvinte para dentro desse universo. Riffs de black metal se entrelaçam a teclados etéreos e vocais alternados entre limpos e rasgados, criando uma dramaticidade quase teatral. A participação de Johanna Lundberg adiciona um brilho extra, e a faixa já se coloca como um dos grandes momentos do disco. Em seguida, “Störtsjö” desacelera e aposta em uma construção mais concisa, com refrão envolvente e guturais que remetem a bandas como AMORPHIS, mas sempre filtrados pela inconfundível marca da VINTERSORG.
Na terceira faixa, “Malströmsbrus”, os elementos folk assumem protagonismo. Corais e riffs cíclicos criam imagens vívidas de batalhas antigas, enquanto o refrão grandioso transmite uma sensação de transcendência. Já “Från djupet dunstar tiden” busca equilibrar delicadeza e brutalidade, mas peca pela execução confusa: teclados magníficos são engolidos por guitarras e bateria que, em alguns trechos, soam nada atraentes, gerando instabilidade no fluxo. Apesar disso, o carisma vocal de Hedlund mantém a faixa em pé.
“Ur älv och å” resgata o vigor inicial do álbum com uma introdução orquestral seguida por passagens quase heroicas de guitarra. A faixa se desenvolve como uma verdadeira travessia, alternando luz e densidade até atingir um clímax em coro pagão, sendo um dos momentos mais bem construídos do disco. A longa “Krafkällan”, por sua vez, funciona como preparação para o desfecho: atmosférica e cinematográfica, mas sem a mesma força das antecessoras, podendo soar cansativa em sua alternância entre arrastado e veloz.
O ponto alto chega com “Regnskuggans rike”, talvez a síntese perfeita do que o álbum pretende. Riffs agressivos, arranjos de sopros e flautas e um refrão monumental criam um épico equilibrado entre o peso do black e a grandiosidade do folk. É aqui que Hedlund atinge o ápice da fusão de estilos, entregando uma avalanche sonora memorável. Já “Skyrök”, com quase oito minutos, aposta em camadas orquestrais intensas e múltiplas linhas vocais, mas recicla fórmulas já exploradas, tornando a audição mais densa do que eficaz. O encerramento com “Ödsliga salar” leva o sinfônico ao limite, pecando pelo excesso de camadas, mas ainda entregando passagens de rara beleza, com solos breves e vocais limpos de tirar o fôlego.
No fim das contas, “Vattenkrafternas Spel” não é um disco perfeito, mas é um retorno digno. Hedlund demonstra vitalidade criativa e mantém a assinatura única de seu projeto, ainda que o excesso de ideias e a produção saturada impeçam o álbum de figurar entre os clássicos. É um trabalho que exige audições repetidas para revelar seus segredos, e recompensa aqueles que se deixam levar por suas camadas.
EM POUCAS PALAVRAS
DESTAQUES:
“Efter dis kommer dimma” abre o disco de forma arrebatadora, enquanto “Ur älv och å” oferece uma das construções mais inspiradas da carreira recente da VINTERSORG. O ponto máximo, porém, é “Regnskuggans rike”, que condensa com perfeição a proposta de unir agressividade e melodia em escala épica.
PONTOS DE ATENÇÃO:
A produção saturada e o excesso de camadas em faixas como “Skyrök” e “Ödsliga salar” podem cansar. Em alguns momentos, a grandiosidade beira a redundância.
EXTRA-MÚSICA:
A capa de “Vattenkrafternas Spel”, desenvolvida pelo talentosíssimo Kris Verwimp, mantém a tradição da VINTERSORG de associar sua música a paisagens místicas e naturais. Este disco teve seu lançamento aqui no Brasil pela gravadora METAL ARMY REC. Brilhante iniciativa para que os headbangers brasileiros possam adquirir este material a preços justos.
VALE A PENA?
Para quem aguardava ansiosamente pelo retorno, este é um álbum que vale a audição atenta. Pode não ser a obra-prima definitiva da carreira, mas é um testemunho poderoso de que as águas da inspiração continuam a mover a sueca VINTERSORG. Entre erros e acertos, vale a pena!
7.0/10
(Daniel Aghehost)
TRACK LIST
1. Efter dis kommer dimma
2. Störtsjö
3. Malströmsbrus
4. Från djupet dunstar tiden
5. Ur älv och å
6. Kraftkällan
7. Regnskuggans rike
8. Skyrök
9. Ödsliga salar