PRIMEIRAS IMPRESSÕES: GRÀB - Kremess (2025)
Resenhas
Publicado em 21/02/2025

GRÀB  - Kremess

(Prophecy Productions)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Em meio às vastas florestas e montanhas da Baviera, onde a névoa rasteja sobre vilarejos esquecidos pelo tempo, nasce “Kremess”, o mais recente lançamento da GRÀB. Lançado pela Prophecy Productions, este álbum é um tributo sonoro às raízes culturais e folclóricas da região, envolvendo o ouvinte em um mergulho sombrio e profundamente atmosférico no black metal bávaro.

Desde os primeiros momentos, “Kremess” estabelece seu compromisso com a ambientação e a narrativa. O disco abre com gravações de campo que evocam um cenário quase ritualístico: o som do vento cortando as colinas, o crepitar distante de uma fogueira, o eco de vozes ancestrais reverberando na escuridão. É um prelúdio perfeito para os cânticos pagãos que emergem logo em seguida, criando um clima hipnótico antes da tempestade sonora que se desdobrará.

Quando as guitarras de Gnást entram em cena, a transição para um território mais pesado e melódico acontece de maneira natural e imersiva. O GRÀB não é uma banda que se contenta apenas com agressividade; há uma construção meticulosa na forma como os riffs e os vocais ásperos (a amplitude vocal de Grànt impressiona em todo o disco) se intercalam com passagens atmosféricas, evocando não apenas a escuridão e a fúria do black metal tradicional, mas também um senso de nostalgia e respeito pelo passado.

A estrutura das músicas em Kremess segue um padrão grandioso, com faixas longas e expansivas que transportam o ouvinte para cenários quase cinematográficos (a melódica e cadenciada faixa-título é belíssimo exemplo da grandiosidade da banda). O peso das guitarras se equilibra com os solos requintados e cuidadosamente trabalhados, enquanto a bateria alterna entre passagens explosivas, repletas de blast beats, e momentos mais cadenciados, permitindo que as nuances melancólicas do álbum respirem.

A presença de sintetizadores adiciona uma camada atmosférica essencial, intensificando o caráter épico das composições sem jamais sobrecarregá-las. Há um equilíbrio preciso entre os elementos mais crus do black metal e as inserções melódicas e folk, criando uma sonoridade que remete tanto ao classicismo de bandas como EMPEROR e WINDIR quanto a contemporâneas como SAOR e DRUDKH..

O que diferencia “Kremess” de outros trabalhos dentro do black metal atmosférico é a forma como a banda incorpora elementos folclóricos de maneira orgânica. Em algumas faixas, a introdução de instrumentos tradicionais reforça essa identidade cultural, enquanto passagens de textos narrados surgem como sussurros de antigos contos transmitidos através das gerações.

Um dos momentos mais marcantes do álbum surge quando a banda reduz a intensidade para dar espaço a trechos acústicos, acompanhados por vocais sussurrados (ouça com atenção a majestosa “Kerkermoasta”). Essa quebra na tempestade sonora não apenas potencializa o impacto dos momentos mais extremos, como também reforça o senso de imersão, permitindo que o ouvinte se perca nesse universo sombrio e fascinante que a banda construiu.

Além disso, as letras, todas escritas em bávaro, são uma homenagem direta às histórias e lendas da região. Não é apenas um álbum sobre escuridão e melancolia; “Kremess” é um trabalho que exalta a herança de um povo, transmitindo sua força, sua dor e sua glória através de uma sonoridade que combina o novo com os tempos primevos.

Dentre as faixas, “Waidler”, a faixa de abertura, se destaca como uma das mais poderosas, com riffs que parecem evocar um chamado ancestral, uma marcha rumo ao desconhecido. Já “Im Hexnhoiz” explora de maneira brilhante a fusão entre atmosferas sombrias e agressividade, enquanto “De letzte Winter”, e seus quase doze minutos, encerra o álbum de forma magistral, com uma instrumentação que parece ressoar como um adeus frio e contemplativo.

 

  

VEREDITO

Com “Kremess”, o duo GRÀB entrega um álbum que não apenas solidifica sua posição dentro do black metal, mas também reforça a capacidade do gênero de servir como uma plataforma para a preservação e reinvenção de culturas sombrias tradicionais.

O equilíbrio entre melodia e agressividade, atmosfera e peso, passado e presente, resulta em um trabalho que merece ser ouvido com atenção e entregue à imersão que propõe.

Um disco que consegue trazer certo respiro de criatividade ao black metal atual. Recomendo!

 

7.5/10

 

(Daniel Aghehost)

 

 

TRACK LIST

1. Waidler

2. Kremess

3. Kerkermoasta

4. Im Hexnhoiz (A Weihraz-Gschicht, Kapitel Oans)  

5. Vom Gråb im Moos (A Weihraz-Gschicht, Kapitel Zwoa)

6. Deifeszeig

7. Waldeinsamkeit

8. Dà letzte Winter

 

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