PRIMEIRAS IMPRESSÕES: HORNA - Nyx – Hymnejä Yölle (2024)
Resenhas
Publicado em 01/10/2024

HORNA  - Nyx – Hymnejä Yölle

(World Terror Committee)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

O álbum “Nyx – Hymnejä Yölle”, da banda finlandesa HORNA, é uma marcante celebração do 30º aniversário da carreira desta veterana do black metal. Com uma trajetória profundamente enraizada no cenário extremo escandinavo, a banda, liderada pelo guitarrista Shatraug, se mantém fiel ao seu som cru e instintivo, enquanto explora novas fronteiras musicais e temáticas. Este disco não apenas exemplifica a longevidade e consistência da HORNA, mas também introduz uma profundidade artística singular, inspirada pela poesia romântica e por conceitos espirituais sombrios, demonstrando uma evolução clara em sua proposta sonora.

“Nyx – Hymnejä Yölle” é, em essência, um álbum conceitual inspirado no poema "Hymnen an die Nacht", de Novalis, um dos pilares do romantismo alemão. A obra poética, que aborda temas de luto e a busca por uma conexão espiritual através da morte, é traduzida e reinterpretada por Shatraug, criando uma fusão entre a lírica introspectiva e o instrumental brutal do black metal. Essa conexão entre a poesia de Novalis e a estética obscura de Horna gera uma atmosfera carregada de melancolia e reverência à noite, que permeia todas as faixas do álbum.

A abertura com "Hymni I", já deixa claro o nível de intensidade e sofisticação que o ouvinte pode esperar ao longo de toda a obra. A faixa começa com um crescendo de guitarras, criando uma sensação de tensão e expectativa que se desenrola em riffs furiosos e vocais carregados de raiva. A energia é devastadora, e o instrumental, ainda que fiel às raízes do black metal dos anos 90, exibe uma clareza e complexidade que mostram o quanto a banda evoluiu sem perder sua essência. Há uma sensação de grandiosidade no arranjo, como se a banda estivesse canalizando forças além deste mundo para dar vida à música.

Seguindo essa abertura poderosa, "Hymni II" oferece uma mudança sutil no tom, mais reflexiva, mas igualmente intensa. O uso de melodias melancólicas e riffs hipnóticos evoca uma sensação de luto, perfeitamente alinhada com o tema de Novalis sobre a perda e a busca pelo transcendental. Aqui, o destaque vai para a habilidade da banda em alternar entre momentos de pura agressão e passagens mais atmosféricas, criando um equilíbrio que mantém o ouvinte imerso na narrativa emocional da faixa.

"Hymni III" introduz um elemento quase contemplativo ao álbum. Os riffs melódicos e as camadas de guitarras constroem uma atmosfera de inquietação, como se estivessem conduzindo o ouvinte por uma jornada espiritual pelos domínios da noite. Há uma sensação de urgência na execução, como se cada nota estivesse destinada a revelar algum mistério oculto. O vocalista Spellgoth está particularmente imponente nesta faixa, com sua performance enérgica e cheia de nuances, elevando a intensidade emocional da música.

Ao avançarmos para "Hymni IV", a banda continua a expandir sua paleta sonora, explorando novas texturas e dinâmicas. Aqui, o quinteto flerta com elementos mais atmosféricos, combinando tremolos afiados com batidas que criam uma sensação de vastidão e desolação. Essa faixa é uma das mais épicas do álbum, evocando imagens de florestas sombrias e paisagens noturnas geladas, típicas das temáticas nórdicas do black metal. A habilidade em transportar o ouvinte para esses cenários através de sua música é um dos pontos altos do disco.

O clímax do álbum chega com "Hymni V", que sintetiza todos os elementos apresentados até então: brutalidade, melodia, atmosfera e emoção. A guitarra e a bateria formam uma unidade coesa, movendo-se entre ritmos rápidos e momentos mais cadenciados, criando uma experiência sonora densa e envolvente. A faixa consegue equilibrar o sombrio e o sublime, refletindo o contraste entre a vida e a morte, tema central do álbum.

O encerramento com "Kuoleva Lupaus" surpreende ao adotar um caminho diferente do restante do disco. Ao invés do black metal tradicional, a banda opta por uma abordagem mais folk e neofolk, com guitarras acústicas e percussão suave criando uma atmosfera introspectiva. Essa faixa, uma releitura de uma música lançada anteriormente pela banda (originalmente presente no maravilhoso "Envaatnags Eflos Solf Esgantaavne" de 2005), traz uma mudança significativa de tom, quase como um rito de passagem após a intensidade das faixas anteriores. Há algo de ritualístico na execução, como se a HORNA estivesse convidando o ouvinte a uma reflexão final sobre a mortalidade e o significado da existência.

Ao longo de seus 44 minutos, “Nyx – Hymnejä Yölle” demonstra uma coesão rara entre conceito e execução musical. A produção é impecável, realçando tanto os momentos mais agressivos quanto as passagens atmosféricas, permitindo que cada detalhe instrumental brilhe. As guitarras de Shatraug e Infection são afiadas e precisas, alternando entre riffs cortantes e passagens mais melódicas, enquanto a bateria de LRH oferece uma base sólida e implacável para a fúria da banda. O baixo de Vnom adiciona peso às composições, e os vocais de Spellgoth são ferozes e cheios de emoção, capturando a essência do black metal em sua forma mais pura.

 “Nyx – Hymnejä Yölle” é uma obra que consolida a HORNA como uma das bandas mais relevantes do black metal contemporâneo. Ao mesmo tempo em que honra suas raízes e referências, como DARKTHRONE e BATHORY, o álbum também mostra que a banda não tem medo de evoluir e explorar novos territórios musicais. A decisão de se basear em uma obra literária como “Hymnen an die Nacht” acrescenta camadas de profundidade ao disco, enriquecendo a experiência tanto para os fãs mais dedicados quanto para os novos ouvintes.

 

 

VEREDITO

Para quem acompanha a HORNA há muito tempo, sabe que a banda não possui discos fracos em sua discografia. “Nyx – Hymnejä Yölle” é um triunfo artístico que combina a fúria implacável do black metal com uma sensibilidade poética e atmosférica.

O quinteto entrega um álbum que, além de celebrar suas três décadas de existência, aponta para um futuro ainda mais promissor, onde a banda continua a desafiar as convenções do gênero sem perder sua identidade.

É um disco que não apenas reafirma a relevância da HORNA, mas também eleva o patamar do black metal como uma forma de arte intensa e introspectiva.

Sem dúvidas, um dos grandes lançamentos do ano!

 

(Daniel Aghehost)

 

9.6/10

 

 

TRACK LIST

1. Hymni I

2. Hymni II

3. Hymni III

4. Hymni IV

5. Hymni V

6. Kuoleva lupaus

 

 

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