PRIMEIRAS IMPRESSÕES: BLACK FUNERAL - Flames of Samūm (2024)
Resenhas
Publicado em 24/09/2024

BLACK FUNERAL  - Flames of Samūm

(Dark Adversary Productions)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Quatro anos após o lançamento de “Scourge of Lamashtu”, a horda norte-americana BLACK FUNERAL, representando uma fusão poderosa de black metal com temas de ocultismo e vampirismo, está de volta com seu novo material, o aguardado “Flames of Samūm”. Neste trabalho, a banda se destaca por sua habilidade em criar uma atmosfera densa e sombria, que não só ressoa com a estética do black metal, mas também se conecta com a mitologia e o misticismo que permeiam as letras.

A abertura do disco é feita pela faixa “The Black Sun of Al-Mazhab", que imediatamente estabelece o tom do álbum. Com uma introdução sombria e melodias envolventes, a canção apresenta riffs de guitarra pesados, combinados com os vocais guturais de Akhtya Nachttoter (o lendário Michael W. Ford) que evocam uma sensação de desespero e loucura. A produção mantém uma crueza característica, o que proporciona um impacto visceral, permitindo que o ouvinte se imerja na temática proposta, onde a banda emana uma invocação poderosa a Al-Mudhib, explorando temas de ocultismo e controle sobre jinns. A letra, repleta de imagens de luz e escuridão, reflete a dualidade entre a adoração e a subserviência, destacando a conexão entre o sol e as forças sobrenaturais. A repetição da frase "Azamtu ʿalaykum" (eu te controlo!) intensifica a urgência do ritual, revelando um desejo profundo de dominar as entidades invocadas.

A seguir, "The Corpse-Pale Moon of Al-Abyad" leva a experiência a um novo patamar, mergulhando o ouvinte em uma narrativa intensa de poder e dominação. Seu início ritualístico desperta sensações primordiais, transportando quem escuta para uma egrégora ancestral. Os riffs rápidos e pulsantes se entrelaçam com uma bateria frenética e sons de flautas etéreas, criando uma atmosfera de urgência quase palpável. A lua é evocada como Malik al-Abyad, trazendo à tona um clima de mistério e dualidade. A interação com figuras como Gabriel e a menção a "Shayṭān al-Abyad" estabelecem um diálogo fascinante entre o sagrado e o profano, posicionando Satanás como um iluminador paradoxal. Esta canção não apenas explora a beleza etérea da lua, mas também revela os perigos ocultos que essa luz pode encobrir, resultando em uma experiência sonora profundamente impactante.

"The Blood Red One Abu Mihriz" é uma das faixas mais intrigantes do disco, trazendo uma atmosfera mais melódica, quase hipnótica, ao mesmo tempo que mantém a agressividade típica do gênero. Os solos de guitarra são mais elaborados, e as harmonias vocais oferecem um contraste interessante ao vocal principal. A letra é uma exploração visceral da guerra e destruição, onde o protagonista, associado a Marte, é representado em sua essência bélica. A letra evoca imagens gráficas de sangue e violência, destacando a natureza sacrificial da batalha. A conexão com deuses da guerra, como Ares, sublinha a ideia de que a guerra é uma força primordial, quase ritualística, que permeia a existência.

" Barqan, Lord of Two Thunders" se destaca por sua construção atmosférica, que cria uma sensação de imersão em um mundo de névoa e mistério. A faixa é marcada por riffs mais velozes e pesados, que evocam imagens de paisagens sombrias e ancestrais. Os vocais são quase sussurrantes em alguns momentos, adicionando uma camada de intimidade e desespero à canção. A menção constante a raios e trovões cria uma imagem de destruição e domínio, enquanto a busca por conhecimento oculto é apresentada como uma bênção e uma maldição. Essa dualidade permeia a canção, capturando a essência do poder que Barqan representa.A visceral "Shamhurish al-Tayyar" é, sem dúvida, uma das faixas mais agressivas do disco, trazendo uma energia crua que resgata os momentos clássicos da banda. Com uma abordagem tribal, a música vai além do black metal tradicional, mesclando passagens hipnotizantes com explosões de violência sonora que prendem a atenção do ouvinte. As letras exploram a interseção entre caos e ordem, posicionando Shamhurish como um símbolo de equilíbrio em meio ao tumulto. A invocação ao "King of Jupiter" evoca um governante que domina as forças naturais, enquanto a referência ao "Fifth Palace of Satan" sugere uma busca por poder oculto e conhecimento proibido. A canção reflete sobre a dinâmica entre controle e libertação, destacando a complexidade da busca por entendimento no reino do oculto, resultando em uma experiência sonora intensa e provocativa.

A penúltima faixa, " Zob'ah the Four-Fold Beast of the Cyclone", é um verdadeiro tour de force, misturando todos os elementos apresentados até agora. Com uma progressão dinâmica, a canção alterna entre momentos de calma e explosões de intensidade, capturando a essência do ritualismo que a banda explora em suas letras. Nesta faixa, o duo apresenta uma entidade multifacetada que domina os elementos da natureza. A letra, rica em imagens de poder e destruição, evoca a figura de Zob'ah como um ser capaz de controlar os ventos e as tempestades. A presença de "blast-demon" sugere que a força da natureza pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição, destacando a relação simbiótica entre o humano e as forças naturais.

O encerramento do álbum com a hipnótica " Maymun as-Sahab", traz uma conclusão poderosa e épica. Os riffs de guitarra são imponentes e melódicos, criando uma sensação de grandiosidade a um trabalho que evoca forças primitivas. "Maymun as-Sahab" conclui o álbum com uma abordagem mística, destacando Maymun como o rei dos céus e da morte. A letra reflete sobre temas de vida e destruição, com imagens evocativas que sugerem que o poder pode trazer tanto bênçãos quanto destruição. A canção captura a essência da dualidade e a complexidade da experiência humana em relação ao sobrenatural, fechando o álbum com uma profunda reverberação de mistério e poder. Essa faixa serve não apenas como um fechamento para o álbum, mas também como um convite à reflexão sobre os temas abordados ao longo da obra.No geral, " Flames of Samūm " é uma jornada através da escuridão, onde a BLACK FUNERAL se destaca por sua capacidade de mesclar sonoridades agressivas com letras profundas e que trazem ao Black Metal sua verdadeira filosofia. A produção crua e a atmosfera envolvente criam uma experiência auditiva que ressoa com a essência do black metal, enquanto a banda explora novos horizontes e desafia as convenções do gênero.

 

VEREDITO

"Flames of Samūm" é uma obra que não apenas reafirma a maestria da BLACK FUNERAL, mas também convida o ouvinte a uma viagem intensa e multifacetada pelo oculto e pelo sobrenatural.

Através de riffs agressivos, atmosferas sombrias e letras profundamente evocativas, a banda cria uma experiência sonora que é ao mesmo tempo visceral e reflexiva.

Cada faixa do álbum se entrelaça em um ritual sonoro que explora a dualidade da vida e da morte, do sagrado e do profano, transportando o ouvinte para um mundo de mistério e poder.

Com um fechamento que ressoa com a grandiosidade de suas temáticas, o álbum se torna um convite irresistível à introspecção, solidificando a BLACK FUNERAL como uma força vital e inovadora dentro do cenário do black metal.

Em um gênero onde a repetição muitas vezes impera, esta obra brilha como um farol de criatividade e profundidade, desafiando e cativando aqueles que ousam se aventurar em sua escuridão.

 

(Daniel Aghehost)

 

9.8/10

 

 

TRACK LIST

1. The Black Sun of Al-Mazhab

2. The Corpse-Pale Moon of Al-Abyad

3. The Blood Red One Abu Mihriz

4. Barqan, Lord of Two Thunders

5. Shamhurish al-Tayyar

6. Zob'ah the Four-Fold Beast of the Cyclone

7. Maymun as-Sahab

 

 

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