PRIMEIRAS IMPRESSÕES: TRELLDOM - ...By the Shadows (2024)
Resenhas
Publicado em 19/09/2024

TRELLDOM  - ...By the Shadows

(Prophecy Productions)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

O retorno da TRELLDOM com o álbum “…by the Shadows…” marca um ponto crucial na trajetória da banda norueguesa, que há muito não lançava material novo. Desde o último trabalho em 2007 (o incrível "Til Minne..."), os fãs esperavam ansiosos por um novo capítulo, mas o que se apresenta neste disco é uma jornada sonora que se afasta das raízes black metal que definiram sua carreira. O álbum, apesar de sua ambição e inovação, revela-se como um exercício de experimentação que, em última análise, pode deixar muito a desejar para os puristas do gênero.

A faixa de abertura, “The Voice Of What Whispers”, dá início ao álbum com uma abordagem atmosférica que é, de fato, um afastamento significativo do som tradicional da banda. A música é marcada por uma introdução lenta e melancólica, com acordes de guitarra que se entrelaçam com camadas de teclados e sintetizadores. O vocal de Gaahl, inconfundível em sua entrega sombria, é complementado por um ambiente sonoro que parece tentar criar uma sensação de profundidade e introspecção. No entanto, a faixa se arrasta com um ritmo que pode parecer excessivamente lento e introspectivo, dando a impressão de que o grupo está mais interessado em estabelecer uma atmosfera do que em manter o dinamismo.

“Exit Existence” segue com uma combinação surpreendente de art rock e elementos de jazz. A inclusão do saxofone, tocado por Kjetil Møster, confere uma nuance sofisticada e inesperada à música. A faixa é uma tentativa de expandir os horizontes da banda, explorando uma paleta sonora que é incomum no contexto do black metal. Embora a inovação seja um ponto positivo, a execução parece dispersa. A fusão de estilos não parece integrada de forma coesa, resultando em um som que pode ser visto como desarticulado. O saxofone, embora interessante, acaba por se destacar de maneira forçada, desviando o foco do resto da instrumentação.

“I Drink Out Of My Head” é um exemplo claro da tentativa da banda de incorporar elementos de pós-punk e psicodelia. A faixa é marcada por um ritmo irregular e uma estrutura que se distancia dos padrões convencionais. O vocal, com uma entrega que remete a um Nosferatu moderno, é envolto em efeitos que amplificam o caráter teatral da música. Contudo, a abordagem exagerada acaba soando pretensiosa, com a faixa se estendendo além do necessário e se tornando cansativa. A mistura de estilos parece forçada, resultando em uma experiência auditiva que pode ser mais desconcertante do que envolvente.

Em “Darkness Is My Friend”, a banda continua sua exploração de novos territórios com uma abordagem que mistura black metal com elementos de doom e gothic. O ritmo lento e os riffs pesados são acompanhados por uma melodia sombria que busca criar uma atmosfera densa e opressiva. Embora a faixa tenha momentos de intensidade, a tentativa de incorporar elementos mais melancólicos e atmosféricos não se traduz em uma coesão musical satisfatória. O resultado é uma faixa que, apesar de seus momentos mais inspirados, acaba se perdendo em meio a uma produção que pode parecer excessiva e desconexa.

“The Witching Hour” traz um toque de folk e música tradicional nórdica, com uma combinação de instrumentos acústicos e uma abordagem mais orgânica. A faixa se distingue pela sua tentativa de evocar um sentimento de ancestralidade e conexão com a tradição cultural. No entanto, a integração desses elementos com a sonoridade black metal da banda não é bem-sucedida. A produção acaba por soar artificial e desconectada, fazendo com que a faixa se desvie da sua intenção original e se torne uma experiência musical que parece deslocada no contexto do álbum.

“By The Shadows”, faixa-título do disco, é uma longa composição que busca encapsular a visão sonora da banda. Com uma duração extensa, a faixa tenta criar uma jornada musical que explora o espaço e o tempo. O uso de teclados e sintetizadores para criar uma paisagem sonora espacial é um aspecto notável, mas a execução acaba se mostrando arrastada e excessivamente prolixa. A tentativa de construir uma narrativa sonora épica se perde em meio a uma repetição que pode se tornar exaustiva, deixando o ouvinte com a sensação de que a faixa não chega a um clímax satisfatório.

“Fading Into Darkness” é uma faixa que apresenta uma combinação de elementos de metal progressivo e música experimental. A estrutura não convencional e a produção elaborada tentam criar uma sensação de complexidade e profundidade. No entanto, a abordagem se mostra excessiva, com uma sobrecarga de arranjos e efeitos que acabam por obscurecer a clareza e a coesão da música. O resultado é uma faixa que, embora ambiciosa, não consegue entregar uma experiência auditiva coerente.

O álbum se encerra com “Eclipse of the Soul”, uma faixa que tenta retornar a um som mais sombrio e introspectivo. A faixa busca recuperar a intensidade e a atmosfera que caracterizavam os trabalhos anteriores da banda, mas a tentativa de retornar às origens é sabotada pela mesma abordagem excessivamente experimental que permeia o disco. O resultado é uma conclusão que parece mais uma tentativa desesperada de reconectar-se com o passado, em vez de uma conclusão natural para a jornada sonora do álbum. 

 

VEREDITO

Em resumo, “…by the Shadows…” é um álbum que demonstra uma busca ousada por inovação, mas que acaba se afastando das raízes do black metal que definiram a banda.

Embora a experimentação e a exploração de novos estilos sejam dignas de nota, o resultado final é uma coleção de faixas que, em muitos casos, se mostram cansativas e desarticuladas.

O afastamento das características tradicionais do black metal e a excessiva ênfase na inovação criam um álbum que, embora interessante em sua ambição, falha em manter a coesão e a autenticidade.

Para os fãs que esperavam uma continuidade da fórmula que fez da TRELLDOM um nome respeitado no gênero, “…by the Shadows…” pode ser uma decepção. Para aquele que gosta de inovação e todo experimentalismo que a música extrema pode oferecer, este disco também pode ser uma decepção.

 

(Daniel Aghehost)

 

5.0/10

 

 

TRACK LIST

1. The Voice of What Whispers

2. Exit Existence

3. Return the Distance

4. Between the World

5. I Drink Out of My Head

6. Hiding Invisble

7. By the Shadows

 

 

 

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