PRIMEIRAS IMPRESSÕES: PHENOCRYST - Cremation Pyre (2024)
Resenhas
Publicado em 04/09/2024

PHENOCRYST  - Cremation Pyre

(Blood Harvest)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

A estreia da lusitana PHENOCRYST no death metal, com o álbum “Cremation Pyre”, é como o desabrochar de uma promessa antiga, que se anunciava no EP “Explosions” de 2021. Surgida nos arredores de Lisboa, a banda formada por D.S. nos vocais e guitarras, V.M. no baixo, Jorge Santos nas guitarras e Artur na bateria, mergulha na força dos desastres naturais, especialmente vulcânicos, para compor uma música que é tão devastadora quanto hipnótica. Há algo quase poético nesse encontro entre a catástrofe e a arte sonora, onde o peso do death metal tradicional ganha contornos novos com toques de doom, formando uma experiência única.

A proposta lírica da PHENOCRYST é clara: transformar a destruição natural em música. Desde o início de “Cremation Pyre”, o ouvinte é engolido por uma erupção de sons, como se estivesse à beira de um vulcão em atividade. “Pinnacle of Death”, a faixa que abre o álbum, é um mergulho sem retorno. As guitarras, pesadas como o peso de montanhas em colapso, e a bateria, vigorosa como a terra tremendo, criam uma atmosfera sufocante. O gutural de D.S. traduz o pavor da catástrofe inevitável, numa espécie de grito ancestral de terror diante do inexorável.

Quando chegamos a “Astonishing Devastation”, a sensação é de que a banda encontrou um equilíbrio delicado. Há fúria, há peso, mas também uma melodia sombria que serpenteia pelos riffs como lava fluindo, silenciosa, antes de um novo cataclismo. É aqui que se percebe a habilidade dos músicos em mesclar a agressividade com algo mais etéreo, como se quisessem lembrar que até na destruição há uma beleza latente, pronta para ser descoberta.

A dualidade entre caos e ordem segue em faixas como “Pyres of the Altar” e “Incandescent Debris”. Na primeira, o ritmo arrastado e a densidade sonora provocam uma sensação de opressão quase palpável. Na segunda, a ausência de vozes faz com que os instrumentos falem por si só, construindo uma tensão que, aos poucos, nos envolve, como se a lava estivesse prestes a nos alcançar.

Na segunda metade do álbum, a banda continua sua jornada por terras devastadas. “Embers of an Ancient Fire” e “Volcanic Winter” carregam um peso emocional que se soma ao instrumental denso e arrastado, como se cada nota fosse uma lembrança do que já foi perdido. As guitarras de D.S. e Santana movem-se lentamente, como correntes de lava atravessando encostas, destruindo e recriando ao mesmo tempo.

Então chega “Fogo Nas Entranhas”, o ponto alto do álbum. Aqui, tudo parece convergir: a brutalidade dos vocais, o peso da percussão, a destreza técnica e a visão artística da banda. Cada elemento se alinha para criar uma música que não apenas nos leva ao centro do caos, mas também nos faz ver sua estranha beleza. A declamação final em português cria o clímax perfeito para o lamento final.

O ciclo se completa com “Burial Swamps”, uma meditação sonora sobre o vazio que fica após a destruição. As notas ecoam como os últimos suspiros de um mundo que se despede, num final melancólico que reflete a essência da banda: transformar o caos em arte.

Com produção impecável de Fernando Matias, “Cremation Pyre” é um álbum que soa cru e refinado ao mesmo tempo. A capa, inspirada em Zdzisław Beksiński, reflete a dualidade da banda, unindo destruição e beleza numa imagem poderosa. Ao longo das oito faixas, a PHENOCRYST cria uma experiência sonora que é tanto imersiva quanto brutal, um testemunho da força criativa que surge do caos.

 


VEREDITO

Em poucas palavras, “Cremation Pyre” é uma estreia que nasce com o vigor de quem sabe aonde quer chegar. A PHENOCRYST se afirma como um nome de respeito no death metal atual, e o álbum é uma prova viva de que eles sabem como transformar o furor da natureza em música. O resultado?

Um trabalho ao mesmo tempo devastador e hipnotizante. Cada uma das oito faixas é um mergulho no caos e na destruição, mas com a habilidade de quem navega por essas águas turvas com destreza.

Para os que buscam profundidade e intensidade no death e doom metal, “Cremation Pyre” é, sem dúvida, uma peça indispensável.

 

(Daniel Aghehost)

 

9.0/10

 

 

TRACK LIST

1. Pinnacle of Death

2. Astonishing Devastation

3. Pyres of the Altar

4. Incandescent Debris

5. Embers of an Ancient Fire

6. Volcanic Winter

7. Fogo nas Entranhas

8. Burial Swamps

 

 

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