PRIMEIRAS IMPRESSÕES: SOLEMN CEREMONY - Chapter III
Resenhas
Publicado em 03/09/2024

SOLEMN CEREMONY  - Chapter III

(Devil's Victim Recordings)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

O mais recente lançamento da SOLEMN CEREMONY, Chapter III, estabelece firmemente a presença da banda na cena do doom metal tradicional, proporcionando uma experiência poderosa e imersiva para seus ouvintes. Vinda de Adelaide, Austrália, e liderada por Phil Howlett, este terceiro álbum de estúdio continua a trajetória da banda no mundo sombrio e introspectivo do doom metal, ao mesmo tempo que refina seu som e identidade musical. Enraizado na densa e sombria sonoridade que o doom metal tinha nos anos 80, o álbum reflete a contínua exploração da banda sobre o desespero, o medo existencial e o sentimento antirreligioso, oferecendo uma abordagem crua e personalizada do gênero que ressoa tanto com puristas quanto com ouvintes modernos.

O álbum começa com "They Rule the Night", uma faixa sombria e ameaçadora que define o tom do que está por vir. Desde as primeiras notas, o ouvinte é mergulhado em um mundo de riffs lentos e esmagadores, reminiscente dos primeiros trabalhos da lenda BLACK SABBATH, mas com um toque distintamente moderno. Os tons analógicos da guitarra evocam a atmosfera sombria dos anos 80, enquanto a estrutura da música faz referência a bandas como THE OBSESSED e REVEREND BIZARRE. Há uma autenticidade crua aqui, com os vocais ásperos de Howlett liderando o caminho, e fica claro que a SOLEMN CEREMONY está profundamente comprometida em preservar o legado do doom metal enquanto infunde seu estilo único.

À medida que o álbum avança, faixas como "Another Lie" mostram a habilidade da banda em construir tensão através de riffs minimalistas e repetitivos que evoluem gradualmente para composições complexas e camadas. Esta música, em particular, carrega a influência da era “Day of Reckoning” da PENTAGRAM, com foco em uma cadência vocal que mantém o ouvinte preso a cada palavra. As letras de Howlett são desafiadoras e reflexivas, explorando temas de engano, controle e a lenta decadência da sociedade. O ritmo implacável e a simplicidade eficaz dos arranjos levam o ouvinte mais fundo na narrativa sombria do álbum.

"Chapter III", a faixa-título, é uma aula de composição de doom metal, repleta de desespero e rebeldia. A estrutura da música reflete a inevitabilidade lenta e esmagadora do destino, com riffs pesados e carregados de doom que criam um senso de desgraça iminente. As letras transmitem um sentimento de conflito interno e desafio, abordando a futilidade do controle religioso e a inevitabilidade do envelhecimento. A entrega vocal de Howlett é particularmente forte aqui, capturando a emoção crua e o medo existencial que definem o som da banda. O clímax da música é tanto catártico quanto perturbador, deixando uma impressão duradoura no ouvinte.

A produção do álbum é um destaque, com um som mais refinado em comparação com os lançamentos anteriores. Embora ainda retenha a crueza analógica que se tornou a marca registrada da banda, há uma melhoria notável na clareza geral e no equilíbrio da mixagem. As guitarras têm um tom espesso e distorcido que remete aos primeiros dias do doom metal, enquanto a bateria e o baixo fornecem uma base sólida para as explorações sonoras da banda. A produção permite ao ouvinte apreciar plenamente as complexidades da música, desde as sutis mudanças de tempo até a intrincada interação entre os instrumentos.

"Arcadia" é outra faixa de destaque, com uma abordagem mais melódica e camadas atmosféricas. A música mostra a habilidade da banda em criar uma atmosfera maldita e construir uma narrativa através da música, com foco no desenvolvimento temático e na narrativa. Os riffs aqui são mais refinados, com uma maior ênfase na melodia e nas dinâmicas, criando uma sensação de tensão e liberação que mantém o ouvinte envolvido do início ao fim. O refinamento estético da música é evidente, pois combina os elementos arcanos do doom metal tradicional com uma sensibilidade mais moderna, tornando-se uma ponte perfeita entre as faixas mais pesadas e primitivas do álbum.

A segunda metade do álbum toma um rumo mais sombrio e agressivo com faixas como "Skull Smasher". Como o título sugere, esta música é um ataque implacável aos sentidos, mesclando o doom metal tradicional com elementos do heavy metal dos anos 80. O groove da música é contagiante, com um ritmo pulsante que impulsiona o ouvinte adiante, mantendo ao mesmo tempo o senso característico de ameaça da banda. Os solos de guitarra nesta faixa são particularmente impressionantes, oferecendo um momento de alívio da intensidade antes de mergulhar novamente nas profundezas do doom.

"King of the Slaves" é uma das faixas mais complexas do álbum, mostrando a habilidade de Howlett em criar arranjos rítmicos intrincados. A música tece diferentes tempos e humores, criando uma sensação de desconforto e tensão que mantém o ouvinte na ponta dos pés. O trabalho de guitarra solo aqui é particularmente forte (destaque mais que merecido para Kieran Provis, o responsável por grande parte das linhas de guitarra do álbum), adicionando profundidade e textura à música, ao mesmo tempo que aprimora a atmosfera geral. A interação entre os vocais e os instrumentos é magistral, com cada elemento contribuindo para a narrativa sombria e opressiva da música.

O álbum conclui com "Unholy Fate", uma faixa ominosa e carregada de doom que sintetiza muito bem os temas e o clima de todo o álbum. O ritmo lento e deliberado da música e os riffs esmagadores criam uma sensação de fim e encerramento, enquanto as letras exploram temas de destino, poder e corrupção. Os vocais de Howlett estão em seu auge aqui, entregando uma performance poderosa e emocional que deixa uma impressão duradoura no ouvinte. A estrutura da música é simples e eficaz, com foco em construir tensão e atmosfera, em vez de depender da complexidade técnica.

A arte de “ Chapter III”, criada pelo artista Adam Burke (também responsável por capas de ANGEL WITCH, ENFORCER, SOLSTAFIR, dentre outros), complementa perfeitamente a paisagem sonora do álbum. A imagem marcante de um crânio vermelho contra um fundo preto evoca sentimentos de medo e desconforto, enquanto também faz referência à imagética clássica de fantasia e horror há muito associada ao doom metal. A arte serve como uma representação visual dos temas e do clima do álbum, adicionando uma camada extra de profundidade à experiência geral.

 

 

VEREDITO

Não são necessárias muitas audições para concluir que “Chapter III” é um triunfo para a SOLEMN CEREMONY, mostrando o crescimento da banda como músicos e compositores, ao mesmo tempo em que permanecem fiéis aos princípios fundamentais do doom metal.

A autenticidade crua do álbum, combinada com sua produção refinada e composições cuidadosas, faz dele um lançamento de destaque no gênero. Para os fãs de doom metal tradicional, este álbum é imperdível, oferecendo uma mistura perfeita de riffs esmagadores, narrativas atmosféricas e letras introspectivas.

A SOLEMN CEREMONY realmente atingiu seu auge com “Chapter III”, entregando um álbum que é tanto atemporal quanto relevante, e que, sem dúvida, deixará um impacto duradouro na cena do doom metal.

Uma pena que este disco dificilmente aparecerá por estas paragens...

 

(Daniel Aghehost)

 

8.8/10

 

 

TRACK LIST

1. They Rule the Night

2. Another Lie

3. Chapter III

4. Arcadia

5. The King of Slaves

6. Skull Smasher

7. Unholy Fate

 

 

 

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