PRIMEIRAS IMPRESSÕES: SETH - La France des Maudits (2024)
Resenhas
Publicado em 13/08/2024

SETH  - La France des Maudits

(Season of Mist / Black Metal Store)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

O black metal francês é um terreno fértil para a expressão artística extrema e a banda SETH, uma das pioneiras do gênero, retorna com seu sétimo álbum de estúdio, “La France des Maudits” (Season of Mist / Black Metal Store). Este disco não apenas continua o legado sonoro que a banda consolidou com “La Morsure du Christ”  em 2021, mas também expande sua visão artística, criando uma obra rica em emoção, melodia e atmosfera.

As chamas da Catedral de Notre Dame podem ter se apagado, mas de suas cinzas emerge uma força revolucionária ainda mais intensa do que a apresentada no trabalho anterior. "La France des Maudits" se posiciona como uma convocação às armas, seguindo naturalmente o caminho majestoso de seu predecessor, e consolidando-se como uma das melhores produções de black metal deste ano.

Com uma produção cuidadosa e um foco temático centrado na Revolução Francesa, “La France des Maudits” se destaca como uma obra complexa e cativante, repleta de detalhes que atraem o ouvinte para uma experiência musical profunda e imersiva.

Desde o início, fica claro que “La France des Maudits” é um álbum tematicamente denso. Inspirado pelos eventos turbulentos da Revolução Francesa, o álbum explora os temas da rebelião, justiça e libertação, todos apresentados através de uma lente de desafio satânico, reminiscentes das obras de Milton, como “O Paraíso Perdido”. Essa abordagem permite que a SETH crie uma narrativa que vai além da simples blasfêmia, mergulhando nas emoções e nas dores dos esquecidos e malditos da história. A revolução é retratada não apenas como um ato político, mas como uma luta espiritual e emocional contra a opressão divina.

Musicalmente, “La France des Maudits” é uma obra-prima de composição e arranjo. O álbum abre com "Paris des Maléfices", uma faixa que estabelece o tom com uma introdução sinfônica sombria que rapidamente se transforma em um ataque de blast beats e riffs de tremolo furiosos. A combinação de elementos atmosféricos, melódicos e sinfônicos é uma característica marcante ao longo do álbum, criando uma sensação de grandiosidade e urgência. A faixa "Et que Vive le Diable!" intensifica essa energia com batidas de bateria trovejantes e vocais viscerais que capturam perfeitamente a fúria da revolução.

À medida que o álbum progride, faixas como "La Destruction des Reliques" e "Dans le Coeur un Poignard" demonstram a capacidade da banda de equilibrar agressividade com melancolia. A guitarra em tremolo, junto com as camadas de teclados, cria paisagens sonoras ricas que evocam tanto a beleza quanto o desespero. "Marianne", um belíssimo interlúdio instrumental, oferece um momento de reflexão, permitindo que o ouvinte respire antes de mergulhar novamente na intensidade do álbum.

Um dos destaques é "Insurrection", que sintetiza perfeitamente o negro espírito do álbum com suas mudanças de andamento e sua letra apaixonada. A música apresenta um trabalho de guitarra intrincado (mais um belíssimo trabalho dos guitarristas Heimoth e Drakhian – que construíram riffs memoráveis em todo o disco), que é simultaneamente melódico e poderoso, complementado por uma performance vocal que transmite tanto a dor quanto a determinação (é incrível como os vocais de Saint Vincent estão ainda mais poderosos). A faixa culmina em um hino de liberdade, onde os gritos de "Plus jamais à genoux" (Nunca mais de joelhos) ecoam como um grito de guerra, uma afirmação de resistência contra qualquer dogma de mentiras, que ressoa ao longo do álbum.

A produção de “La France des Maudits” é notável por sua clareza e riqueza. Cada elemento do som é perfeitamente equilibrado, desde os vocais ardentes de Saint Vincent até os teclados majestosos de Pierre Le Pape. As guitarras de Heimoth e Drakhian cortam através da mixagem com precisão, enquanto a bateria de Alsvid e o baixo de Esx Vnr fornecem uma base sólida e poderosa. A produção permite que a complexidade das composições brilhe, destacando tanto os momentos de fúria quanto os de melancolia.

Um ponto interessante é como o álbum utiliza elementos sinfônicos e corais para expandir a atmosfera sem sobrecarregar a música. Esses elementos adicionam profundidade e textura às composições, criando uma sensação de drama e teatralidade que é essencial para o impacto emocional do álbum.

 

VEREDITO

“La France des Maudits” é mais do que apenas um álbum de black metal; é uma declaração artística poderosa que captura a essência da revolução e do desafio através de uma música magistralmente composta.

A francesa SETH conseguiu criar um trabalho que é ao mesmo tempo visceral e introspectivo, que provoca o ouvinte a se engajar tanto emocional quanto intelectualmente. Este álbum não é apenas uma continuação digna de “La Morsure du Christ”, mas pode ser considerado o ponto alto da carreira da banda até agora.

Com “La France des Maudits”, a banda solidifica sua posição no panteão do black metal francês, oferecendo uma obra que é tão rica em conteúdo quanto em execução. Este é um álbum que deve ser ouvido repetidamente, pois a cada nova audição, novos detalhes e camadas são revelados, tornando-o uma adição indispensável para qualquer fã do gênero. Se “La Morsure du Christ” foi o renascimento da banda, “La France des Maudits” é a coroação de sua revolução artística.

 

(Daniel Aghehost)

 

10/10

 

 

TRACK LIST

1. Paris des maléfices

2. Et que vive le diable !

3. La destruction des reliques

4. Dans le cœur un poignard

5. Marianne

6. Ivre du sang des saints

7. Insurrection

8. Le vin du condamné

 

 

 

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