PRIMEIRAS IMPRESSÕES: ALCEST - Les Chants de l'aurore (2024)
Resenhas
Publicado em 30/07/2024

ALCEST  - Les Chants de l'aurore

(Nuclear Blast / Shinigami Records - Clique aqui para adquirir)

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Cinco anos após o lançamento de “Spiritual Instinct” a francesa ALCEST, um dos nomes mais influentes do metal atmosférico e do post-black metal, lançou seu mais recente álbum "Les Chants De L’Aurore". Este álbum é um testemunho da evolução contínua da banda, oferecendo uma experiência sonora que mistura elementos de suas obras passadas em uma coesão única. Ao longo de suas nove faixas, "Les Chants De L’Aurore" convida os ouvintes a uma jornada musical que é tanto introspectiva quanto expansiva, demonstrando a habilidade da banda em criar atmosferas sonoras transportadoras.

Logo na faixa de abertura, "Komorebi", somos transportados por uma mistura de guitarras distorcidas e limpas, acompanhadas pelos vocais ascendentes de Neige, criando um ambiente onírico que se estende por todo o disco. A palavra "Komorebi" é um termo japonês que descreve a luz do sol que passa através das folhas das árvores, e essa sensação de luz filtrada e beleza efêmera é capturada perfeitamente pela banda. A bateria de Winterhalter, com seus ritmos dinâmicos, dá uma energia constante que mantém a música pulsante, criando um contraste cativante com as guitarras etéreas. Trilha sonora perfeita para um tema que versa sobre a necessidade de renovação, para que possamos procurar, através da conexão com a natureza, nossa verdadeira essência.

"L’Envol" destaca-se com vocais suaves de Neige e guitarras cintilantes, construindo-se gradualmente até um clímax melódico seguido por um trecho de vocais guturais que adicionam uma camada de intensidade inesperada. A dualidade vocal ilustra bem o tema central da música: um voo imaginário para além da realidade terrestre. Para um lugar onde seja possível a liberdade da alma e a transcendência.  Essa faixa exemplifica a habilidade da ALCEST em misturar suavidade e agressividade de maneira harmoniosa, criando uma experiência auditiva rica e multifacetada. A transição entre os vocais limpos e guturais é fluida, mostrando a versatilidade vocal de Neige e a profundidade emocional da música.

Em "Améthyste", somos apresentados a uma atmosfera pós-punk, com uma mistura de seções de guitarra contrastantes e vocais emocionantes. As guitarras em "Améthyste" são particularmente notáveis, alternando entre melodias cintilantes e riffs mais sombrios, criando uma paisagem sonora que é ao mesmo tempo nostálgica e inovadora. A influência pós-punk adiciona uma nova dimensão ao som da banda, expandindo os limites do que podem alcançar. A letra aborda a sensação de dor compartilhada e de uma busca incessante por uma realidade transcendente. Há uma contemplação profunda sobre a origem e a natureza imortal da essência humana. A ametista, uma pedra preciosa que representa clareza espiritual e cura, é uma metáfora para a busca de entendimento e de conexão com algo maior. A letra destaca o desejo de compreender a própria origem e de reconhecer a imortalidade da alma

"Flamme Jumelle" combina elementos de post-metal brilhantes com ritmos metálicos e uma sensibilidade pop clássica, mostrando a singularidade criativa da ALCEST. A faixa é uma fusão de estilos que, em mãos menos habilidosas, poderia parecer desarticulada, mas aqui é executada com tal finesse que cada elemento se complementa perfeitamente. Os ritmos metálicos dão à música uma base sólida, enquanto a sensibilidade pop adiciona uma leveza que contrasta de maneira encantadora com os elementos mais pesados. Esta música é também uma reflexão sobre a perda e a busca incessante por uma conexão profunda. A letra fala sobre os dias que passam sem mudanças, marcados pela ausência de uma chama que simboliza um amor ou uma ligação espiritual. A imagem de palavras que se eclipsam sugere a dificuldade de expressar a profundidade dessa ausência. A letra é permeada por uma sensação de errância e desorientação, com uma esperança de reviver memórias incandescentes e de encontrar um caminho de volta para a luz.

A faixa "Réminiscence" é um interlúdio impressionista conduzido por piano, resumindo muito bem a intenção de Neige de trazer luz ao mundo através da música. Este breve momento de tranquilidade serve como uma pausa reflexiva no álbum, permitindo aos ouvintes absorverem plenamente a beleza e a complexidade das faixas anteriores. O piano em "Réminiscence" é delicado e emotivo, criando uma sensação de paz e introspecção que é essencial para a narrativa do álbum.

"L’Enfant de la Lune", com sua introdução falada, mergulha em um black metal clássico, surpreendendo com seções de funk que se integram perfeitamente à faixa. Esta faixa é uma das mais experimentais do álbum, mostrando a disposição do duo em explorar novos territórios musicais. A mistura de black metal e funk é inesperada, mas funciona de maneira surpreendentemente coesa, criando uma experiência auditiva que é tanto inovadora quanto cativante. Aqui, Neige narra as desventuras infantis sob o complacente olhar da lua e de estrelas que dançam para uma criança. A lua e as estrelas dançantes são símbolos de renovação e de vigilância espiritual. A letra aborda a ideia de ondas que trazem e levam arrependimentos, enquanto a lua observa as almas errantes. Há uma nostalgia pelo passado e uma contemplação das noites solitárias, sugerindo um desejo de reconexão com um estado de pureza e sonho infantil.

O álbum se encerra com "L’Adieu", uma balada que combina guitarra e teclados em um som envolvente e emocional, culminando em uma despedida melancólica, mas satisfeita. "L’Adieu" é a faixa perfeita para encerrar o álbum, encapsulando todos os temas de luz e escuridão, alegria e tristeza que permeiam "Les Chants De L’Aurore". A combinação de guitarra e teclados cria uma melodia hipnotizante que permanece com o ouvinte muito depois da música terminar, deixando uma impressão duradoura. Utilizando um paralelo metafórico entre a colheita de ramos de Urze e a morte do outono, a letra reforça a sensação de fim e de mudança inevitável, sugerindo uma espera contínua e uma esperança de reencontro além da vida terrena, um sentimento de saudade e de eterna lembrança.

 

VEREDITO

"Les Chants De L’Aurore" é um disco equilibrado que reflete a evolução contínua do som da ALCEST, misturando elementos de suas obras passadas em uma experiência sonora coesa e única. Com sua produção clara e vibrante, o álbum é uma escapada musical bela e confortante, perfeita para os fãs antigos e um ponto de partida ideal para novos ouvintes. ALCEST continua a cativar com sua habilidade de criar atmosferas sonoras transportadoras, oferecendo uma trilha sonora de melancolia e esperança que certamente se tornará um clássico em sua discografia.

Neige e Winterhalter, os membros principais da banda, demonstram uma química musical incrível em "Les Chants De L’Aurore". A capacidade da ALCEST de transitar entre diferentes gêneros e estilos sem perder sua identidade é um testemunho de sua habilidade e criatividade como músicos.

"Les Chants De L’Aurore" não é apenas um álbum; é uma experiência emocional e sensorial que convida os ouvintes a mergulharem profundamente em suas melodias e letras. a banda conseguiu, mais uma vez, criar uma obra que ressoa tanto em um nível pessoal quanto universal, fazendo deste álbum um marco significativo em sua carreira e um momento marcante para qualquer fã de música atmosférica e emotiva.

 

(Daniel Aghehost)

 

9.6/10

 

 

TRACK LIST

1. Komorebi

2. L'envol

3. Améthyste

4. Flamme jumelle

5. Réminiscence

6. L'enfant de la lune (月の子)

7. L'adieu

 

 

 

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