PRIMEIRAS IMPRESSÕES: DEICIDE - Banished by Sin (2024)
Resenhas
Publicado em 01/05/2024

DEICIDE  - Banished by Sin

(Reigning Phoenix Music)

 

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Após um hiato de seis anos, o DEICIDE retorna com "Banished By Sin", seu décimo terceiro álbum de estúdio. Este lançamento representa uma tentativa vigorosa da banda de reconquistar seu lugar de destaque na cena do death metal. Mantendo-se fiel ao compromisso com a intensidade brutal do gênero, o álbum destaca um som que mistura a ferocidade característica do grupo com uma inovação refrescante, evidenciando a persistência da banda em evoluir e impressionar mesmo após décadas de carreira.

Antes mesmo de começarmos a análise deste álbum, a capa gerada por inteligência artificial de "Banished By Sin" já havia capturado a atenção da internet, dividindo opiniões entre os metalheads. Este elemento controverso serve como um reflexo da postura do vocalista Glen Benton, que frequentemente mostra desdém pela opinião alheia e foca na expressão de sua própria visão artística, desafiando as expectativas tradicionais. A escolha da arte da capa, ao se afastar das estéticas convencionais do death metal, ilustra perfeitamente a tendência de Benton de gerar debates intensos entre fãs e críticos sobre a identidade visual e a direção artística da banda.

Musicalmente, "Banished By Sin" apresenta uma excelente produção que se destaca como um tanto atípica para o gênero. O som limpo e preciso, meticulosamente projetado por Jeramie Kling e Taylor Nordberg, permite uma clareza distinta onde as camadas complexas de instrumentação são totalmente apreciáveis. Esta clareza realça a sofisticação técnica dos trabalhos de guitarras de Kevin Quirion e Taylor Nordberg, cujos esforços brilham em todo o álbum. Sua capacidade de entregar riffs cativantes e complexos e solos que fervilham com malícia é um destaque, particularmente evidente em faixas como "From Unknown Heights You Shall Fall" (faixa de abertura estabelece o tom para o álbum com um ataque imediato de riffs intensos e bateria devastadora. A música é uma demonstração de força, combinando a agressividade clássica do Deicide com uma produção mais limpa e moderna) e "Sever the Tongue” (Um destaque no álbum, esta faixa é marcada por seus riffs maníacos e vocais abissais. Ela incorpora elementos que lembram o SLAYER, especialmente nas guitarras, e mostra uma abordagem quase técnica ao death metal).

A performance vocal de Glen Benton é tão áspera e potente como sempre, conduzindo o conteúdo temático do álbum com uma fúria revigorante. Seus rugidos, combinados com seu baixo proeminentemente mixado, adicionam uma profundidade significativa ao perfil sonoro do álbum. A bateria de Steve Asheim permanece um pilar do som do Deicide, com seus padrões habilidosos e agressivos ancorando a agressão implacável do álbum, especialmente notável em faixas como "Woke From God" (aqui, a banda introduz um som mais épico, combinando a agressividade negra com uma abordagem mais grandiosa e abrangente. É intensa e memorável, com uma mistura de blasts e tremolos que mantêm a energia em alta).

Um dos destaques que merece menção são as letras de “Banished by Sin”. A banda segue fiel à sua tradição provocativa e profana, com letras que exploram temas de descrença e blasfêmia com uma veemência característica. As músicas, imbuidas de uma intensa crítica ao dogmatismo religioso, oferecem uma visão sombria e provocativa da fé e da submissão espiritual. Em "From Unknown Heights You Shall Fall", a banda tece um relato sobre a perigosa ilusão da fé cega, sugerindo que a busca por salvação através de um deus pode levar ao abismo, ao invés do paraíso prometido. A música é uma poderosa metáfora sobre cair de grandes alturas, um salto no desconhecido que não encontra o divino ao final.

"Doomed to Die" e "Sever the Tongue" amplificam esta mensagem, com a primeira destacando a inevitabilidade da morte e o fútil desejo de redenção através de figuras religiosas, enquanto a segunda é um ataque direto ao símbolo da comunicação divina, propondo um rompimento radical com as doutrinas que dividem e controlam.

A faixa "Faithless" aborda a liberdade encontrada na rejeição da fé, descrevendo a transformação de um crente em alguém que desafia abertamente a autoridade divina, enquanto "The Light Defeated" fecha o álbum com uma visão de um mundo onde as entidades sagradas são superadas e derrotadas, uma visão quase apocalíptica da falência da luz divina.

Essas letras, embora desafiadoras e controversas, são essenciais para entender o ethos da DEICIDE. A banda não apenas utiliza sua música como um veículo para expressar fúria e repúdio, mas também como uma forma de provocar reflexão sobre a influência e o impacto da religião na sociedade. 

Apesar de suas muitas qualidades, o álbum "Banished By Sin" não está isento de falhas. A começar pela capa, que, apesar de impactante, não transmite a agressividade crua que se espera do death metal, refletindo uma estética que pode não agradar a todos. Musicalmente, enquanto o disco começa com uma intensidade arrebatadora em faixas como "Doomed to Die", que evoca o som clássico do DEICIDE com uma fusão vigorosa de bateria rápida e guitarras afiadas, o álbum gradativamente perde força.

As primeiras músicas, incluindo "Faithless" e "Bury the Cross…With Your Christ", que habilmente incorporam influências melódicas para expandir o apelo do álbum sem comprometer sua ferocidade, contrastam com a segunda metade do disco. Após "Ritual Defied", as coisas não mudam muito, e a audição pode se tornar cansativa e repetitiva. Especificamente, faixas como "A Trinity of None", "I Am I... a Curse of Death" e "The Light Defeated" exemplificam essa tendência, não alcançando o nível de energia e inovação das músicas iniciais.

No entanto, essas questões menores não diminuem significativamente o impacto geral do álbum. "Banished By Sin" é uma adição robusta à discografia do DEICIDE, mostrando uma banda que permanece fiel às suas raízes enquanto abraça técnicas modernas de produção e composição. Ele se destaca como um testemunho da relevância contínua do DEICIDE na paisagem em evolução do death metal, garantindo que sua chama blasfema queime tão ferozmente quanto sempre.

 

 

 

VEREDITO

É impossível não ouvir “Banished by Sin” e não perceber qu e este álbum reflete uma banda que não apenas está ciente de seu legado, mas também não tem medo de inovar e se adaptar à dinâmica mutante da indústria musical.

A capacidade da DEICIDE de manter seu som central enquanto integra novos elementos é uma façanha rara em um gênero que muitas vezes preza a pureza e a adesão a formas tradicionais. Este álbum, portanto, não é apenas uma coleção de faixas; é uma declaração sobre a resiliência e a adaptabilidade de uma banda que suportou os altos e baixos de uma indústria tumultuada.

O compromisso implacável da DEICIDE com sua visão artística, apesar das controvérsias e desafios que surgiram ao longo do caminho, fala de uma verdade mais profunda sobre o poder duradouro da música que desafia o status quo.

"Banished By Sin" não é apenas um álbum; é um reflexo de uma banda que continua a evoluir, inspirar e provocar, tornando-se uma adição vital ao cânone do metal e um capítulo convincente na saga contínua de um dos atos mais influentes do death metal.

 

 

(Daniel Aghehost)

 

8.0/10

 

 

TRACK LIST

1. From Unknown Heights You Shall Fall

2. Doomed to Die

3. Sever the Tongue

4. Faithless

5. Bury the Cross... with Your Christ

6. Woke from God

7. Ritual Defied

8. Failures of Your Dying Lord

9. Banished by Sin 03:04

10. A Trinity of None

11. I Am I... a Curse of Death

12. The Light Defeated

 

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