NAMELESS GODS - And That Sigil Meant Death
(Independente)
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
No panorama vasto e muitas vezes inexplorado do death/doom metal, poucos álbuns capturam a imaginação e acendem o espírito ardente dos aficcionados pelo gênero como "And That Sigil Meant Death", o primeiro registro da paulistana NAMELESS GODS. Este disco é uma manifestação sombria e envolvente da maestria musical, um convite aos abismos mais profundos da alma humana, onde o desespero e a esperança se entrelaçam em uma dança etérea. Através de riffs densos que se desdobram como névoa sobre paisagens desoladas e vocais que emergem das profundezas com uma força primordial, "And That Sigil Meant Death" se estabelece como um belíssimo cartão de visitas de uma banda que cria um portal para um reino onde o peso do doom e a ferocidade do death metal coexistem em perfeita harmonia.
A abertura com "Your Flesh is Not Enough", serve como uma declaração potente das intenções sombrias e da maestria sonora que permeiam todo o álbum. Os vocais de Malu Sales, carregados de emoção, transmitem uma sensação de urgência e desespero, enquanto Juan Azevedo (baixo) e Daniel Oliveira (bateria), formam uma fundação sólida que impulsiona a música para frente. As guitarras, aqui à cargo de Isabela Ishibashi e Damien Mendonça, com seus riffs lentos e pesados (e algumas pitadas de metal tradicional), complementam perfeitamente a atmosfera criada pela letra, pintando um quadro sonoro extremamente marcante. "Your Flesh is Not Enough” não apenas estabelece o tom para as faixas subsequentes, mas também oferece uma experiência auditiva rica e profunda que é reforçada pelo videoclipe disponível no YouTube.
Na sequência, “Sunken Horror” chama atenção por seus fraseados de guitarra intricados e belíssimos, que não apenas servem como um destaque, mas também pintam uma paisagem sonora que é tão imensa quanto o abismo marinho que inspira a letra. A versatilidade dos vocais de Malu Sales brilha intensamente nesta faixa, adicionando uma camada de profundidade e emoção à narrativa. Sua capacidade de transmitir uma gama de sensações, do terror à admiração, enriquece a experiência auditiva, tornando "Sunken Horror" um dos pontos altos do álbum. O trabalho de baixo e bateria serve como condutores brilhantes para que as guitarras conduzam a música. Esta escolha de arranjo reforça a atmosfera envolvente e sombria da faixa.
A letra de "Sunken Horror" evoca imagens de uma entidade adormecida e incompreensível, espalhando caos e despedaçando mentes enquanto aguarda o alinhamento das estrelas para despertar. Esta narrativa, inspirada em temas lovecraftianos, fala sobre o medo do desconhecido e o terror que vem com a revelação de segredos antigos. A repetição dos versos "In death-like slumber / This endless horror / Spreading chaos / Shattering minds" funciona como um mantra, intensificando o clima de tensão e expectativa para o despertar da entidade.
As faixas "And That Sigil Meant Death" e "Hollow Triumph" dos Nameless Gods são representações intensas e contrastantes do espectro emocional e musical que o death/doom metal pode oferecer. A primeira, homônima ao álbum, é uma jornada arrastada por riffs pesados que evocam os primórdios de bandas icônicas como INCANTATION, mergulhando o ouvinte em reflexões sobre promessas quebradas, sacrifícios vãos e a inevitabilidade da morte, simbolizada pelo sigilo. A atmosfera opressiva criada pela música reflete um sentimento de apatia e perda, cercado pelos fantasmas de um futuro despedaçado. Seguindo-a, "Hollow Triumph" emerge com um baixo profundo que guia o ouvinte para momentos de grandeza sombria. Esta faixa é feroz, brutal e agressivamente death metal, destacando-se pelo excepcional trabalho de bateria. Sua narrativa explora a solidão, paranoia e a descida à loucura de um ser confrontado pelos fantasmas de um passado ensanguentado, culminando na ironia de um "triunfo oco", onde a vitória e o poder são permeados por uma aura de tristeza eterna. Juntas, essas músicas tecem um cenário rico em desespero e reflexão, marcando o álbum com uma profundidade emocional e musical notável.
"Rust Prevails" e "Trapped in Perpetual Dread" destacam a habilidade da banda em criar uma atmosfera sombria e envolvente, característica do death/doom metal. "Rust Prevails", é uma odisseia de desespero e isolamento, capturada em vocais abissais e instrumentação magistral, onde baixo e bateria criam uma atmosfera densa que é tanto opressiva quanto cativante. As guitarras não apenas conduzem o ouvinte através desta viagem sombria, mas também pintam um quadro de contrastes brutais, destacando a solidão de um ser confrontado pelos espectros de um passado ensanguentado. Já "Trapped in Perpetual Dread" aprofunda-se na experiência de um tormento sem fim, com sua narrativa de ciclos repetitivos de desespero. Ambas as faixas são testemunhos da competência da banda em fundir técnica e emoção, oferecendo uma experiência que é tanto introspectiva quanto intensamente musical.
"As the Heart Outweighs the Feather", a faixa de encerramento de "And That Sigil Meant Death", encapsula a essência sombria e reflexiva do álbum, levando o ouvinte através de uma jornada final que é tão arrastada quanto profundamente simbólica. Com riffs de guitarra que tecem uma ode à desesperança e agonia. A letra, inspirada em imagens e conceitos do Livro dos Mortos egípcio, reflete sobre a inevitabilidade do julgamento da alma, onde nenhum amuleto ou encantamento pode salvar um coração pesado de ser devorado. A habilidade da banda em conjugar essas imagens poderosas com uma sonoridade que é ao mesmo tempo pesada e cativante confirma "And That Sigil Meant Death" como um disco impressionante. Para um disco de estreia, a NAMELESS GODS demonstra não apenas um entendimento profundo do death/doom metal, mas também a promessa de um futuro brilhante no cenário underground nacional, fechando o álbum com uma faixa que não apenas resume a viagem emocional e temática proposta, mas também deixa o ouvinte refletindo sobre a própria existência.
VEREDITO
"And That Sigil Meant Death", álbum de estreia da NAMELESS GODS, emerge como um farol no vasto e obscuro mar do death/doom metal nacional, iluminando um caminho tanto para aficionados quanto para os que estão apenas começando a explorar as profundezas desse gênero. Através de uma mistura magistral de riffs densos, vocais que surgem das profundezas e uma atmosfera opressiva, o álbum não apenas situa a banda como uma nova força a ser reconhecida, mas também oferece um convite irresistível para uma viagem introspectiva ao coração da escuridão humana.
Desde a abertura com "Your Flesh is Not Enough" até o encerramento épico em "As the Heart Outweighs the Feather", cada faixa do álbum serve como um capítulo de uma odisséia sombria, repleta de desespero, agonia, e uma reflexão implacável sobre a mortalidade. A habilidade da NAMELESS GODS de entrelaçar elementos musicais com narrativas profundas transforma "And That Sigil Meant Death" em uma experiência auditiva que vai além da mera música, tornando-o em uma obra que merece ser saboreada à exaustão..
Ao conquistar seu lugar no cenário underground nacional, a banda não apenas promete um futuro brilhante para si mesma, mas também para o gênero death/doom metal, provando que mesmo dentro da escuridão mais profunda, há beleza e profundidade a serem encontradas. "And That Sigil Meant Death" é, portanto, mais do que um álbum; é um manifesto do potencial inexorável e da beleza sombria que reside no coração do death/doom metal, uma obra que, sem dúvida, deixará uma marca indelével naqueles que ousarem embarcar nesta jornada.
(Daniel Aghehost)
9.0/10
TRACK LIST
1. Your Flesh Is Not Enough
2. Sunken Horror
3. And That Sigil Meant Death
4. Hollow Triumph
5. Rust Prevails
6. Trapped in Perpetual Dread
7. As the Heart Outweighs the Feather