PATRIARKH - Пророк Илия (Prorok Ilja)
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PRIMEIRAS IMPRESSÕES
"Пророк Илия" marca a ambiciosa estreia de PATRIARKH, a nova criação de Bartłomiej Krysiuk após os tumultuosos anos à frente da BATUSHKA. Lançado com o objetivo explícito de se desvincular das disputas legais e criativas anteriores, este álbum traz uma nova perspectiva musical, mergulhando profundamente em temas religiosos e históricos com uma proposta ousada e teatral. É uma obra conceitual poderosa, explorando a história real do profeta Eliasz Klimowicz, que liderou uma seita ortodoxa na Polônia dos anos 1930 e 1940.
O álbum abre com a faixa "Wierszalin I", uma introdução cuidadosamente trabalhada que mergulha o ouvinte imediatamente em um ambiente profundo e sagrado. As densas harmonias vocais, somadas às camadas instrumentais ricas e texturizadas, constroem gradualmente uma atmosfera introspectiva e solene, como portas que se abrem lentamente para revelar uma cerimônia obscura prestes a começar. Esta faixa inicial estabelece com perfeição a aura envolvente necessária para preparar os ouvintes para a verdadeira missa negra sonora que se desenrolará nas faixas subsequentes.
Em “Wierszalin II”, a missa negra realmente começa. A banda abandona o clima cerimonial da abertura e mergulha numa tempestade sonora onde coros litúrgicos se chocam com riffs cortantes e uma percussão avassaladora. A fusão entre a grandiosidade do sagrado e a crueza do black metal atinge aqui um equilíbrio arrebatador. Bartłomiej Krysiuk entrega uma performance vocal incandescente — seus vocais rasgados surgem como pregações em fúria, conduzindo a faixa com intensidade ritualística. A estética ainda remete à sua antiga banda, mas aqui a proposta soa mais incisiva: a PATRIARKH acerta em cheio ao apresentar um black metal voraz, solene e absolutamente imersivo.
Wierszalin III” é, sem dúvida, um dos pontos mais refinados e emocionantes do álbum — uma verdadeira escultura acústica lapidada com delicadeza e brutalidade em medidas exatas. A faixa começa com ares de solenidade pagã, onde instrumentos folclóricos como mandocello e dulcimer evocam imagens de rituais ancestrais, conectando tempos remotos à urgência espiritual do presente. A música flui como um rio sinuoso: serena e introspectiva em certos trechos, violenta e grandiosa em outros. As transições são habilidosas, conduzindo o ouvinte por paisagens sonoras que alternam luz e trevas, silêncio e erupção.
É aqui que a PATRIARKH mostra plena maturidade em manipular dinâmicas — os vocais surgem como entidade múltipla: há o timbre feminino quase espectral, há as narrativas que sussurram o delírio de um falso profeta, há o canto litúrgico que ora acalma, ora perturba. Tudo se costura com beleza e tensão, gerando uma experiência emocional profunda, como se estivéssemos participando de um culto proibido, onde a fé e o medo andam de mãos dadas.
“Wierszalin IV” é, sem dúvidas, um dos momentos mais marcantes de Пророк Илия. A participação da vocalista Eliza Sacharczuk (que também participou do novo trabalho da polonesa HATE) traz uma dimensão única à faixa — sua voz suave e espiritual conduz a introdução ao lado de arranjos folclóricos minimalistas, criando um clima de devoção solene. Essa leveza inicial contrasta com perfeição com a virada brutal que se segue: guitarras cortantes, percussão intensa e uma das performances mais agressivas de Bartłomiej Krysiuk até aqui.
Os vocais rasgados de Krysiuk, cheios de fúria e urgência, encontram nas melodias angelicais de Sacharczuk um contraponto poderoso. A interação entre os dois é magnética — há tensão, beleza e conflito. É como se estivéssemos diante de um embate entre o sagrado e o profano, conduzido por uma composição que equilibra delicadeza e brutalidade com absoluta precisão.
É nesse equilíbrio que a faixa se sobressai. “Wierszalin IV” emociona, assusta e fascina — um ritual musical que, ao mesmo tempo em que acolhe, também confronta. Um dos grandes momentos do disco.
“Пророк Илия” explode em sua forma mais violenta e intransigente em “Wierszalin V”. A introspecção das faixas anteriores dá lugar a uma avalanche sonora que atinge o ouvinte com urgência, como um prenúncio de fim dos tempos. Logo nos primeiros segundos, fica evidente que esta é uma das faixas mais brutais do álbum — um mergulho sem concessões no lado mais extremo da proposta de PATRIARKH.
A bateria impulsionando a música com blast beats secos e nervosos. As guitarras, se entrelaçam em riffs densos e dissonantes que evocam caos e desespero. A cozinha instrumental trabalha com precisão quase militar, conduzindo a faixa com uma força que beira o colapso, mas que se mantém controlada em sua fúria. Cada virada rítmica, cada ataque harmônico, revela a competência técnica dos músicos em sua forma mais crua.
Bartłomiej Krysiuk entrega aqui uma de suas performances mais intensas e viscerais. Seus vocais soam como pregações furiosas de um líder à beira da loucura, ecoando sobre um campo de batalha espiritual em chamas. Ele não apenas canta — ele profetiza, vocifera e condena. É o som da ruína se anunciando, com toda a teatralidade que a proposta do álbum exige.
Mas o que torna “Wierszalin V” ainda mais fascinante é sua capacidade de transitar entre extremos. Em meio à tempestade sonora, há instantes de silêncio ameaçador, de respiros sombrios, como se o disco convidasse o ouvinte a olhar nos olhos do abismo antes de ser tragado por ele. Essa alternância entre brutalidade e contemplação intensifica a atmosfera apocalíptica e torna a experiência ainda mais imersiva.
Trata-se de uma faixa que não apenas impõe respeito — ela o exige. E mais do que isso: revela que o lado agressivo da banda é não apenas eficiente, mas absolutamente necessário para o equilíbrio desta obra. A dualidade entre o sublime e o grotesco, entre a luz e a destruição, faz de “Wierszalin V” um pilar fundamental do disco. Não é uma canção para ouvidos frágeis, mas sim para aqueles dispostos a atravessar o fogo e sair transformados. É som litúrgico em guerra, fé em colapso, música em estado de urgência. E sim — é devastadoramente belo.
Em "Wierszalin VI", a banda abraça totalmente sua influência folclórica, criando uma faixa de beleza rara e delicada. Os arranjos acústicos detalhados e harmonias vocais femininas oferecem uma sensação quase pastoral, transportando o ouvinte para uma paisagem sonora serena e introspectiva. A qualidade instrumental aqui é excepcional, com cada nota cuidadosamente colocada para maximizar o impacto emocional e lírico, criando um momento de profunda reflexão dentro do álbum. Um sublime contraponto que enriquece ainda mais esta obra.
Um dos momentos mais intensos e grandiosos do disco surge em “Wierszalin VII”, revelando a face mais épica da PATRIARKH. A composição é construída sobre uma base litúrgica, onde arranjos sinfônicos robustos se entrelaçam com percussões vigorosas e coros que evocam rituais sombrios — como se uma procissão se desenrolasse no limite entre o sagrado e o maldito.
A estrutura da faixa é guiada por um crescendo cuidadosamente arquitetado. A música começa com uma tensão palpável, um suspense ritualístico conduzido por corais que transmitem salvação e negação ao mesmo tempo, e avança com passos pesados rumo ao colapso sonoro, como se estivéssemos prestes a testemunhar uma missa negra em sua fase mais dramática. Nada aqui soa previsível: cada nova seção revela um desdobramento inesperado, prendendo o ouvinte num transe de ansiedade e fascínio.
As guitarras, por sua vez, atingem um nível de refinamento impressionante. Não apenas sustentam o peso da composição, mas lideram uma jornada densa e angustiante, quase hipnótica. Riffs densos e abrasivos cortam a ambiência sinfônica como lâminas afiadas, conduzindo a banda a um clímax de destruição calculada — não uma destruição caótica, mas uma demolição emocional, minuciosamente pensada para abalar o centro da psique do ouvinte.
“Wierszalin VII” não apenas soa como um chamado ao fim dos tempos — ela o encena. E o faz com beleza, inteligência e brutalidade.
“Wierszalin VIII” é o rito final — e nele, a PATRIARKH atinge a culminância de sua proposta artística com uma precisão quase primitiva. A faixa não apenas encerra o álbum, ela o sela, como se imprimisse em cera quente o símbolo final de uma liturgia profana. Todos os elementos explorados ao longo da obra — a solenidade da música sacra, a ferocidade do black metal e a ancestralidade do folk — são aqui fundidos com equilíbrio assombroso, em uma composição que exala densidade e transcendência.
As guitarras erguem muros de som carregados de emoção e peso, enquanto os coros litúrgicos se sobrepõem como lamentos divinos, contrapostos por percussões que ora marcham como sentenças, ora explodem como avisos. Tudo é milimetricamente construído para carregar o ouvinte até a borda do abismo — e deixá-lo ali, contemplando a escuridão.
Diferente de tantas bandas que apenas simulam atmosferas com artifícios estéticos, a PATRIARKH não encena: ela incorpora. Em “Wierszalin VIII”, não há espaço para o conforto do faz de conta. Aqui, os acordes são feridas abertas, e os cânticos, preces que sangram. O medo é real, a angústia é palpável, e a sensação de desamparo diante do fim ecoa como uma última bênção corrompida.
Ao final da faixa, algo permanece suspenso no ar — não um alívio, mas um resquício. Como se a missa negra ainda estivesse vibrando em algum canto da alma. A polonesa PATRIARKH não apenas fecha um disco: finaliza um rito, uma narrativa onde o sagrado e o sombrio se confrontam e se fundem. É um encerramento digno, potente e inesquecível para um álbum que não pede licença para existir — apenas entra, toma o altar e impõe reverência.
A produção do álbum, sob responsabilidade de Wojciech Wiesławski no Hertz Studio, merece destaque especial por permitir que cada elemento musical seja ouvido com absoluta clareza. Apesar de algumas introduções e transições serem um pouco longas demais, a riqueza sonora e a qualidade técnica da gravação garantem uma experiência auditiva imersiva e profunda.
VEREDITO
"Пророк Илия" é um álbum que exige uma audição atenta e dedicada. Sua complexidade temática e musical reflete um amadurecimento significativo de Krysiuk e seus companheiros, marcando claramente um novo capítulo artístico para a PATRIARKH.
Embora ainda busque sua identidade definitiva (mesmo que tudo aqui seja muito melhor do que os últimos trabalhos da BATUSHKA), a banda demonstra com clareza seu potencial criativo e sua capacidade de produzir obras inovadoras e instigantes dentro do black metal.
No fim, este trabalho deixa evidente que a banda não teme explorar novos territórios musicais, entregando uma obra que certamente conquistará a atenção e admiração tanto dos fãs do estilo quanto daqueles que valorizam narrativas conceituais sofisticadas e bem executadas.
"Пророк Илия" é, acima de tudo, uma demonstração ousada e eficaz do poder transformador da música quando unida à narrativa histórica e espiritual.
Ou seja, um material obrigatório.
10/10
(Daniel Aghehost)
TRACK LIST
1. Вершалин I / Wierszalin I
2. Вершалин II / Wierszalin II
3. Вершалин III / Wierszalin III
4. Вершалин IV / Wierszalin IV
5. Вершалин V / Wierszalin V
6. Вершалин VI / Wierszalin VI
7. Вершалин VII / Wierszalin VII
8. Вершалин VIII / Wierszalin VIII