BERLIAL - Nourishing The Disaster To Come
(My Kingdom Music)
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
O metal extremo sempre foi um gênero que, em suas diversas manifestações, busca transcender os limites do som e da emoção humana. Algumas bandas escolhem o caminho da brutalidade crua, enquanto outras optam por texturas mais atmosféricas, densas e experimentais. O duo francês BERLIAL, composto por HellSod (guitarras, voz, bateria, baixo) e CzH (voz, teclado), se encaixa perfeitamente nesse segundo espectro com seu novo álbum, “Nourishing the Disaster to Come”.
Lançado sob o selo My Kingdom Music, o disco mergulha no abismo do black metal polimórfico e iconoclasta, incorporando elementos eletrônicos, post-rock e dungeon synth para criar uma sonoridade que dialoga com bandas como Dødheimsgard e Blut Aus Nord. Entretanto, o duo se apropria dessas influências e as remodela em uma experiência única, onde cada faixa é um capítulo de uma narrativa sonora cinematográfica, repleta de tensão, desolação e um sentido quase apocalíptico do existir.
Desde a faixa de abertura, “The Last Dance”, somos introduzidos a um universo sonoro onde o caos e a ordem coexistem de maneira inquietante. Com mais de sete minutos de duração, a música começa com uma atmosfera espectral, logo engolfada por camadas de guitarras reverberantes e uma bateria que, apesar de caótica, mantém uma estrutura meticulosamente calculada. A voz, ora sussurrada, ora gritada, surge como um espectro que habita o negro instrumental da canção.
“Nouveau Monde” segue com uma abordagem diferente. Seu início é quase ritualístico, com teclados frios e industrializados que evocam um vazio cibernético. Quando as guitarras entram, é como se fôssemos arrastados por uma tempestade de distorção e ritmos dilacerantes. O trabalho da bateria é notável, alternando entre momentos de fúria absoluta e passagens mais cadenciadas que intensificam a sensação de um apocalipse iminente.
Talvez o grande centro gravitacional do álbum seja “We Deserve to Fall Again”, uma peça monumental de quase treze minutos. Aqui, a BERLIAL exibe toda sua capacidade de contar histórias através do som. A composição é construída de forma a envolver o ouvinte em camadas de tensão progressiva, como um filme de horror psicológico que se desenrola em câmera lenta. Há momentos de silêncio inquietante, seguidos por explosões viscerais, com riffs que evocam um desespero palpável tendo como base sonoridades altamente primevas.
“Ivresse de la finitude” explora melodias melancólicas que remetem ao post-rock, com acordes que se prolongam e criam uma sensação de vertigem. A presença de elementos eletrônicos adiciona um toque futurista e abstrato à música, como se o duo estivesse pintando paisagens sublimes de um mundo em ruínas.
A faixa-título, “Nourishing the Disaster to Come”, é uma das mais curtas do álbum, com pouco mais de quatro minutos, mas sua intensidade é esmagadora. Com uma abordagem mais direta, a música joga o ouvinte em um vórtice de blast beats e guitarras lancinantes, sem dar espaço para respiro. Há uma sensação de urgência e inevitabilidade, como se estivéssemos testemunhando o próprio colapso da realidade.
O disco se encerra com “Le néant pour éternité”, que combina todos os elementos apresentados anteriormente em uma síntese impressionante. Com quase oito minutos de duração, a música se move entre momentos de pura agressão sonora e passagens contemplativas, onde os teclados assumem um papel fundamental na criação de uma atmosfera de desolação infinita.
Em termos de produção, “Nourishing the Disaster to Come” é um trabalho excepcional. A mixagem equilibra perfeitamente o peso das guitarras e a complexidade dos elementos eletrônicos, garantindo que cada detalhe seja audível sem perder a densidade necessária para um álbum desse estilo. O som é massivo e envolvente, criando uma experiência sonora que não apenas se ouve, mas se sente.
A lírica do álbum também merece destaque. Embora muitas das letras permaneçam envoltas em um mistério quase hermético, é evidente que a BERLIAL busca explorar temas existenciais profundos, refletindo sobre a destruição, a decadência e a inevitabilidade do colapso. Há um tom de desesperança, mas também uma aceitação quase filosófica da ruína, como se alimentar o desastre fosse, no fim das contas, parte do ciclo natural das coisas.
VEREDITO
Com esse segundo álbum, o duo francês BERLIAL consolida seu nome dentro da cena do black metal contemporâneo como uma banda que não teme explorar novas fronteiras sonoras.
“Nourishing the Disaster to Come” não é apenas um disco de black metal – é uma jornada sonora intensa e visceral, que desafia o ouvinte a mergulhar em sua escuridão e encontrar beleza no caos.
Para aqueles que apreciam música extrema com profundidade e complexidade, este é um álbum que certamente merece ser ouvido e revisitado várias vezes.
7.5/10
(Daniel Aghehost)
TRACK LIST
1. The Last Dance
2. Nouveau Monde
3. We Deserve to Fall Again
4. Ivresse de la finitude
5. Nourishing the Disaster to Come
6. Le néant pour éternité